Matéria sobre a assistência médica prestada por Cuba às vítimas do acidente radiológico de Goiânia. Em 1992, por iniciativa de Fidel Castro, dezenas de brasileiros passaram meses em Cuba recebendo atendimento médico gratuito de especialistas em contaminação radioativa.

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O acidente radiológico de Goiânia foi o mais grave episódio de contaminação por radioatividade ocorrido na história do Brasil. O acidente derivou da negligência do Instituto Goiano de Radioterapia, uma instituição privada de saúde sediada no centro de Goiânia.

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Em 1985, após se mudar para um novo endereço, o instituto abandonou equipamentos médicos radioativos nas suas antigas instalações, sem se preocupar com o descarte adequado.

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Em 13 de setembro de 1987, dois catadores de materiais recicláveis encontraram um equipamento de radioterapia abandonado no local e subentenderam que se tratava de sucata. A máquina foi então levada para um ferro-velho e desmontada.

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Dentro da máquina, os catadores acharam uma cápsula de chumbo e a abriram, visando reaproveitar o metal. Ao observar o conteúdo da cápsula, Devair Ferreira, dono do ferro velho, se interessou pelo cloreto de césio-137.

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O césio-137 é material altamente radioativo, sob a forma de um sal que emite um forte brilho azul. Devair levou o sal para sua casa e o mostrou para sua esposa, irmãos e sobrinha. Curiosos, parentes, amigos e vizinhos foram até o local para ver de perto da substância.

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Devair distribuiu porções do sal para vizinhos e amigos que, por sua vez, expuseram outras pessoas à substância. Poucas horas depois, as pessoas expostas ao sal começaram a apresentar sintomas derivados da contaminação radioativa e procuraram ajuda médica.

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A princípio, os profissionais desconfiaram se tratar de uma doença contagiosa desconhecida, mas após serem alertados sobre o contato com o césio-137, acionaram a Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), que confirmou se tratar de um acidente radiológico.

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O governo federal, presidido por José Sarney, tentou minimizar a gravidade do ocorrido, ao passo que o governador de Goiás, Henrique Santillo, temendo afastar os turistas do GP Internacional de Motovelocidade, disse que ocorrera um mero "vazamento de gás".

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A CNEN mandou isolar os bairros contaminados e examinar a população da cidade. O Estádio Olímpico Pedro Ludovico foi reservado para a realização dos exames. A ação permitiu reverter a contaminação corporal a tempo em milhares de pessoas e evitar uma tragédia ainda maior.

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A esposa de Devair, sua sobrinha e dois de seus funcionários morreram em questão de dias, com graves quadros hemorrágicos, problemas renais e pulmonares. Devair faleceu de câncer sete anos depois da tragédia e seu irmão, Ivo, morreu de enfisema pulmonar em 2003.

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A Associação das Vítimas do Césio-137 afirma que até o ano de 2012, ao menos 104 pessoas haviam morrido em decorrência da contaminação, sobretudo de câncer. Outras 1.600 pessoas desenvolveram problemas de saúde derivados da exposição ao material radioativo.

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Muitos imóveis tiveram de ser demolidos e mais de 13 toneladas de resíduos foram removidas da comunidade afetada.
Malgrado a ação rápida dos funcionários da CNEN ter impedido que o problema se alastrasse, a assistência médica ofertada aos contaminados foi insatisfatória.

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O Sistema Único de Saúde (SUS) ainda estava sendo formulado e a rede assistencial local não tinha informações precisas sobre os protocolos para contaminação radiológica, deixando muitos dos afetados sem tratamento.

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Comovido pela tragédia, o governo cubano despachou o biofísico Omar Garcia, do Centro de Proteção Radiológica de Cuba, e uma equipe de médicos para acompanhar o atendimento às vítimas em Goiânia.

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O governo cubano já possuía larga experiência no tratamento de vítimas de contaminação radioativa, pois havia atendido milhares de crianças ucranianas afetadas pelo acidente nuclear de Chernobyl em abril de 1986.

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Em 1992, durante a viagem que fez ao Rio de Janeiro para participar da ECO-92, o presidente cubano Fidel Castro procurou Terezinha Nunes Fabiano, presidente da Associação das Vítimas, e ofereceu atendimento médico para os afetados pela contaminação radioativa em Cuba.

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Terezinha aceitou, esperançosa com a possibilidade de tratamento: "Quando Fidel levantou a minha filha, Natasha, e lhe deu um beijo, me dei conta de quanta bondade tinha em seu olhar e confiei mais que nunca", explicou em uma entrevista posteriormente.

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O tratamento foi inteiramente gratuito e o governo cubano arcou com todas as despesas, incluindo a viagem, hospedagem e alimentação. Dezenas de pacientes brasileiros foram integrados ao programa especial de acompanhamento de vítimas de acidentes radioativos.

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Eles ficaram quatro meses internados em hospitais e clínicas especializadas de Havana. As famílias dos pacientes ficaram hospedadas em chalés no Acampamento de Pioneiros José Martí.

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No retorno ao Brasil, os pacientes foram acompanhados por uma delegação de especialistas cubanos, que repassaram às autoridades brasileiras as conclusões diagnósticas, recomendações médicas e os exames e laudos produzidos durante o tratamento em Cuba.

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