Há 80 anos, em 7/6/1942, nascia Muammar Kadafi, revolucionário e estadista líbio. Após comandar a deposição do rei Idris I, Kadafi instituiu um governo socialista que transformou a Líbia no país com os indicadores sociais mais avançados do continente africano.

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Não obstante, a postura anti-imperialista e as medidas econômicas implementadas pelo governo líbio fizeram com que Kadafi se tornasse um alvo das potências ocidentais, culminando com a intervenção estrangeira na Líbia e com seu assassinato em 2011.

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Kadafi nasceu na aldeia de Abu Hadi, em uma família de beduínos dedicados ao pastoreio de camelos. Tornou-se um nacionalista de tendências socialistas na juventude, durante seus estudos em Saba, interessando-se igualmente pelas ideias do líder egípcio Gamal Abdel Nasser.

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Após concluir os estudos secundários, ingressou na Academia Militar de Bengazi, vislumbrando a possiblidade de articular um movimento revolucionário dentro das Forças Armadas. Em 1964, Kadafi fundou o Movimento dos Oficiais Livres,...

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...que se organizou em um sistema de células clandestinas e atraiu o apoio de um grande número de militares nacionalistas. Cinco anos depois, em 1969, Kadafi liderou uma insurreição militar contra a dinastia Senussi. O levante contou com apoio massivo da população líbia,...

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...descontente com a crise econômica, os problemas sociais e as práticas clientelistas. O rei Idris I era conivente com a exploração da riqueza petrolífera do país por empresas ocidentais, o que já havia suscitado uma série de motins ao longo dos anos sessenta.

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Após a queda do rei, Kadafi proclamou a república e assumiu a chefia do governo, instituindo um sistema político baseado no socialismo islâmico, conservando a iniciativa privada, mas estatizando ativos de propriedade estrangeira e nacionalizando o setor petrolífero.

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As receitas provenientes do petróleo foram usadas para criar a mais abrangente rede de proteção social do continente africano. O governo líbio dobrou o salário mínimo, introduziu o controle de preços, passou a garantir moradia gratuita para todos os habitantes,...

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...universalizou os sistemas de saúde e educação e criou programas abrangentes de distribuição de renda e segurança alimentar. Também foram abolidas as restrições sociais impostas às mulheres e instituída a igualdade formal de gênero e a paridade salarial.

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Aliadas aos índices expressivos de crescimento econômico, as reformas tiveram um profundo impacto no desenvolvimento social da Líbia. Em menos de uma década a oferta de médicos foi quadruplicada e o déficit de moradias foi substancialmente diminuído.

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A malária foi erradicada e as camadas mais pobres da sociedade foram incorporadas ao sistema educacional. A Líbia passou a ostentar o maior Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) da África e se tornou o país com a menor dívida pública do mundo.

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No campo da política externa, o governo Kadafi se destacou pela denúncia do imperialismo: decretou o monopólio estatal do comércio exterior, ordenou o fechamento de todas as bases militares dos EUA e do Reino Unido e articulou a oposição dos países árabes à OTAN.

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Aproximou-se também dos países socialistas e passou a financiar organizações revolucionárias em todo o mundo — incluindo os movimentos de combate ao apartheid, a Frente Popular para a Libertação da Palestina e o Partido dos Panteras Negras.

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Em 1973, Kadafi lançou a Revolução Popular e instalou os Congressos Populares de Base, um sistema de democracia direta e autogestão, onde o povo tomava decisões autônomas em nível regional, sem a intermediação do governo.

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Esse sistema era alicerçado na "Terceira Teoria Universal" — doutrina cunhada por Kadafi como uma alternativa ao capitalismo e ao socialismo soviético, formulada a partir da junção de princípios do socialismo islâmico, do titoísmo, do pan-africanismo e do pan-arabismo.

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Os fundamentos da teoria foram detalhados no "Livro Verde" e serviram de base para a implementação da Jamahiriya ("Estado de Massas") em 1977. O período foi marcado pelo aprofundamento das reformas, com comitês populares assumindo o controle das empresas.

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Kadafi também iniciou as obras do Grande Rio Artificial — maior projeto de irrigação do mundo.
Incomodados com as mudanças conduzidas por Kadafi, os EUA incluíram a Líbia na lista de "patrocinadores do terrorismo", aplicando uma série de sanções econômicas contra o país.

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Em 1982, Ronald Reagan impôs o embargo ao petróleo líbio. Quatro anos depois, os EUA responsabilizaram a Líbia pelo atentado à discoteca de Berlim e iniciaram uma campanha de bombardeios contra o país, em conjunto com Reino Unido e Israel.

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Visando atenuar os efeitos das sanções, Kadafi flexibilizou as restrições à atuação do setor privado. Em 1991, entretanto, a ONU ampliou ainda mais as sanções contra a Líbia, após Kadafi se negar a extraditar dois cidadãos acusados de envolvimento no atentado de Lockerbie.

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Na década seguinte, Kadafi tentou superar o isolamento econômico do país ampliando os vínculos diplomáticos com a África e países do Terceiro Mundo. Mesmo negando envolvimento no atentado de Lockerbie, o governo líbio concordou em indenizar as famílias das vítimas.

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Também abandonou o programa de armas nucleares, tentando convencer o ocidente a levantar as sanções. O país conseguiu reverter as restrições mais prejudiciais, mas seguiu ameaçado de invasão por Bush, que alegou que Kadafi estaria fabricando armas de destruição em massa.

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Kadafi voltou a irritar o Ocidente quando anunciou a intenção de criar o "dinar de ouro" — uma moeda internacional que seria utilizada nas transações entre os países produtores de petróleo da África e do Oriente Médio, abolindo o uso de petrodólares na região.

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Pouco tempo depois, em fevereiro de 2011, seu governo virou alvo da Primavera Árabe, após a eclosão de uma grande onda protestos exigindo sua deposição. Países ocidentais forneceram armas às milícias oposicionistas, mergulhando a Líbia em uma sangrenta guerra civil.

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Os Estados Unidos, então sob o governo de Barack Obama, acusaram Kadafi de cometer "crimes contra a humanidade" ao reprimir os manifestantes e a imprensa ocidental passou a veicular uma série de matérias satanizando o mandatário líbio.

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Em agosto de 2011, a Corte Penal Internacional emitiu um mandado de prisão contra Kadafi. Alegando razões humanitárias, Estados Unidos e seus aliados da OTAN atacaram a Líbia, submetendo o país a uma campanha brutal de bombardeios que devastou a capital, Trípoli.

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Em 20 de outubro de 2011, após 8 meses de conflito, Kadafi foi capturado e morto por opositores, apoiados pelas potências ocidentais. A intervenção deixou dezenas de milhares de civis mortos, fez colapsar as instituições e destruiu toda a infraestrutura do país.

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A Líbia vive desde então mergulhada em completa anomia política e em constante guerra civil, registrando-se até mesmo o retorno de práticas que haviam sido banidas há décadas, como a venda de escravos subsaarianos.

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