Anatomia da desinformação. Esse fio tem um intuito de alertar as pessoas a respeito da forma como elas consomem conteúdo no Twitter. Peço aos citados que não entendam a eventual menção aqui como um ataque e sim como um alerta.
1. Em 7/mar, o regime russo denunciou a existência de uma rede de 30 "biolaboratórios" na Ucrânia com conexão com o Departamento de Defesa dos EUA. O que teria sido encontrado ali indicaria a realização de "experimentos em programas biológicos militares" https://tass.com/world/1418311 
2. O material, porém, era uma indicação disso, não era prova, como admitiu o próprio oficial russo responsável pelo informe. As evidências teriam sido destruídas por americanos e ucranianso. "Seria possível provar", "ficaria claro". Estamos no condicional aqui, portanto
3. Em 8/mar, o discurso mudou. O regime russo informa que "obteve documentos comprovando que laboratórios biológicos ucranianos localizados perto das fronteiras russas trabalhavam no desenvolvimento de componentes de armas biológicas" https://tass.com/politics/1418689
4. No mesmo dia, o Ministério do Exterior da China, usando dados oficiais do governo norte-americano sobre laboratórios no exterior e a acusação russa, pede esclarecimentos sobre as atividades realizadas na Ucrânia https://twitter.com/CaoYi_MFA/status/1501201567478865922
5. Na noite de 8/mar, o influenciador Ian Miles Cheong (falaremos mais dele na sequência) compartilha trecho do depoimento de Victoria Nuland, subsecretária de Estado dos EUA, ao Senado dos EUA. A pergunta é feita pelo senador republicano Marco Rubio https://twitter.com/stillgray/status/1501310103529541636
6. Rubio pergunta: "A Ucrânia tem armas químicas ou biológicas?". A resposta: "A Ucrânia tem instalações de pesquisa biológica que (...) estamos bastante preocupados que as tropas russas possam estar tentando obter o controle". A pergunta não foi respondida, como se vê
7. Nuland não negou nem admitiu a existência de armas químicas e biológicas. Mas sua resposta levanta uma suspeita importante: o material existente ali pode, no mínimo, ser usado como arma química/biológica, já que há um temor de que caia nas mãos da Rússia
8. O importante aqui é ter em conta o seguinte. Seguimos no condicional, com informações transmitidas por duas potências conhecidas por construir e usar armas de destruição em massa e por terem políticas externas baseadas em coerção e mentiras. Não há conclusão possível
9. Mas e quem é o Ian Miles Cheong? É um influenciador, aparentemente baseado na Malásia, que se notabilizou por seu discurso pró-Trump. E – que curioso – desde pelo menos o início do ano ele mantém coluna no site da Russia Today, estatal de mídia russa https://www.rt.com/op-ed/authors/ian-miles-cheong/
10. Em seu tweet, Cheong afirma que Nuland "acabou de confirmar cada teoria conspiratória sobre a existência desses laboratórios". E completa: "Estou começando a pensar que esses podem não ser os mocinhos." Eis que o tweet chegou à "tuitosfera" brasileira...
11. Em 9/3, o @allanpatrick, que eu não sei quem é, mas que é seguido por pessoas inteligentes aqui, retuitou Cheong dizendo que os EUA estariam discutindo a "presença de arsenal biológico na Ucrânia". Trata-se de um avanço de sinal. Isso não foi discutido https://twitter.com/allanpatrick/status/1501494068932747270
12. Na noite de 9/3, @hugoalbuquerque, publisher da @JacobinBrasil, retuita o influencer pró-Trump pago pelo regime russo, e vai ainda mais longe, ao afirmar que "laboratórios americanos para guerra biológica na Ucrânia não são teoria da conspiração". https://twitter.com/hugoalbuquerque/status/1501665593770098693
13. Ainda em 9/3, o governo dos EUA nega a existência de armas biológicas na Ucrânia. É uma negativa assertiva e que Nuland não havia feito ao responder a pergunta de Marco Rubio no Senado https://twitter.com/PressSec/status/1501676230617321480
14. Na manhã de @hugoalbuquerque reafirma que houve uma "comprovação de que havia laboratórios americanos de guerra biológica na Ucrânia", que há "provas concretas" disso e que os russos "encontraram elas [armas de destruição em massa]" na Ucrânia https://twitter.com/hugoalbuquerque/status/1501920701414060036
15. O professor @eliasjabbour, então, retuitou a afirmação de @hugoalbuquerque sobre a "comprovação" da existência de armas de destruição em massa norte-americanas na fronteira da Rússia https://twitter.com/eliasjabbour/status/1501945367444680710
16. Enquanto isso, o China Daily (estatal chinesa), publica um texto que ajuda a entender o motivo de Pequim ter pescado tão rapidamente a acusação russa contra os EUA. O problema era a acusação feita contra a China sobre a covid-19 http://global.chinadaily.com.cn/a/202203/10/WS622942dfa310cdd39bc8b92f.html
17. Ontem, após falar sobre este tema, comecei receber algumas respostas. Uma delas era essa. Trazia um tweet de 28/2 segundo o qual a embaixada dos EUA havia apagado de sua página as informações sobre os laboratórios na Ucrânia https://twitter.com/mauro_cgc/status/1502004049251553288
20. Os tweets dela, datados de 26/2, dois dias depois do início da invasão russa, estão no ar. Mas há um problema na 'investigação' dela. Todos os links e documentos que ela diz terem sido removidos pelos EUA estão no ar. Mostro no próximo tweet https://twitter.com/dgaytandzhieva/status/1497556518278991873?ref_src=twsrc%5Etfw%7Ctwcamp%5Etweetembed%7Ctwterm%5E1497556518278991873%7Ctwgr%5E%7Ctwcon%5Es1_&ref_url=https%3A%2F%2Fwww.riotimesonline.com%2Fbrazil-news%2Fmodern-day-censorship%2Fpentagon-doesnt-want-you-to-see-these-documents-about-biolabs-in-ukraine%2F
22. Hoje, 11h36 de 11/3, não há como afirmar qualquer coisa sobre a questão de modo conclusivo. Seguimos entre afirmações de dois governos, que devem ser encaradas com igual suspeição. Há mais para falar, sobre teorias conspiratórias e os laboratórios, mas fica para outro fio
23. Se você chegou até aqui, talvez este fio também te interesse: https://twitter.com/zeantoniolima/status/1502321952198963212
24. Se você chegou até aqui, este outro fio também vai ser interessante: https://twitter.com/zeantoniolima/status/1503514234008834051
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