Está começando a residência médica de Cardiologia?

Por essa fase, você pode passar apenas de carona ou assumir o volante.
Se você quer assumir o controle e aproveitar ao máximo a residência, então segue esse fio que eu preparei 10 dicas pra você.
1. Seja humilde sobre ECG. Eu sei que você já fez cursos básicos, alguns de vocês eram os “mini-cardios” dos hospitais gerais onde fizeram Medicina Interna.

Mas ninguém sabe ECG. Nós estudamos, discutimos, revisamos, pesquisamos. Entender isso já te coloca à frente de muitos.
2. Não estude por livros de 20 anos atrás. Eu sei que tem aquele Braunwald 6a edição na salinha de reuniões da tua residência. Ou aquele livro de ECG tão antigo que nem fala sobre marca-passo ou eletrofisiologia.

A Medicina muda rapidamente. Esse livro não serve mais.
3. Se ainda não fez ACLS, faça. É importantíssimo. E se já fez, entenda que esse é um curso básico, feito para generalistas. Você, como especialista, precisa conhecer o manejo específico das arritmias no Pronto Socorro.

Lembra do algoritmo “chamar o especialista”? É você agora.
4. Antes de iniciar um estágio, estude as diretrizes daquele tema (americana, europeia e brasileira). Não é uma competição, é só para entender como elas lidam com as controvérsias.

Pesquise sobre os pontos divergentes e comece a criar bom senso.
5. Ainda para criar bom senso (afinal, essa será sua vida e você não quer ser um cardiologista leigo), leia os artigos que definiram as diretrizes. Eles estão citados ao lado da recomendação.

De onde vem o número 150? E 120? Porque NYHA II? Você vai entender e não decorar.
6. Entenda que a prova de título é mera decoreba de diretriz. Mas decorar diretrizes não faz de você um bom cardiologista.
Jogue o jogo, mas não imponha limites a si mesmo.

O bom especialista não decora diretrizes. O bom especialista critica as diretrizes, estimulando evolução.
7. Ausculte cuidadosamente seus pacientes. E faça muito ultrassom/eco.

Se sua residência não tem esses aparelhos em todos os corredores, compre um portátil e comece a treinar. É um investimento (nem o MEC, nem hospital nenhum te ajudarão), mas seu EU do futuro vai agradecer.
8. Estimule a formação de equipes de alto desempenho em paradas cardíacas. Pergunte ao seu preceptor se podes liderar a equipe ou assumir o ultrassom. Desestimule pausas nas compressões para intubar.

Resuma a parada com a equipe ao final. Aponte focos de melhoria com empatia.
9. Respeite todos. A equipe (e seus profissionais de todas as áreas) já estava lá quando você chegou e já sabe muito mais cardiologia que você.

Aprenda com todos, discuta respeitosamente com todos. Se tiver que ensinar, o faça com empatia e respeito.
10. Livre-se de dogmas. Aproveite esses 2 anos como devem ser: um momento único de intenso aprendizado e crescimento pessoal e profissional.

Se fosse pra ficar repetindo dogmas, uma aula de um dia só já serviria.
Bonus. Leia livros do tipo “tratados”. A fase de ler mini-manuais já passou: era quando você queria saber o básico de cardiologia porque também tinha que aprender o básico de reumato e endócrino.

Agora é cardiologia full-time. Não imponha limites ao seu potencial.
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