O que acontece na Ucrânia – tópicos históricos para entender o conflito atual

Segue o fio com considerações históricas sobre a questão Ucrânia, Rússia, OTAN e Estados Unidos. É ume tentativa de resumo histórico. Ao final, deixo indicações de LIVROS e materiais

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Primeiro, é necessário entender a relação secular entre Rússia e Ucrânia. Não é correto pensar dois países em separado com cultura, língua, costumes, religião e afins em todo diferenciados. Milhões de ucranianos falam russo e tem identificação com a cultura russa

(continua)
Não posso, ainda que minimamente, debater aqui a relação histórica entre Ucrânia e Rússia. Recomendo novamente o longo e até cansativo escrito da Revista Opera. Leiam todo o fio e depois voltem para ler a matéria de Pedro Marin

(continua) https://revistaopera.com.br/2022/01/29/ucrania-40-graus/
Primeiro, com o fim da União Soviética e o Pacto de Varsóvia (aparato militar do campo socialista), os Estados Unidos se comprometeram a não expandir a OTAN para o Leste. Foi um pacto ao fim da Guerra Fria para manter a paz no Leste europeu e com a Rússia

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Os Estados Unidos, como sabemos, NÃO CUMPRIU o pacto e seguiu expandindo a OTAN para o leste. Várias ex-repúblicas soviéticas entraram na OTAN e os seguidos protestos diplomáticos da Rússia e de outros países foram ignorados.

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A Ucrânia, presidida por Víktor Yanukóvytch, atuava com base em um equilíbrio entre boas relações com o "Ocidente" e com a Rússia. É falso que Yanukóvytch tinha uma postura de fantoche da Rússia. Ele era apenas um líder político que não embarcou na linha antiRússia

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Em 2013, começa uma série de protestos na Ucrânia que rapidamente é apropriado por grupos neonazistas. A Ucrânia tem um longo histórico de um nacionalismo ultraconservador que assumiu um programa nazifascista e tem Stepan Bandera como seu principal símbolo

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Nos protestos de 2013-2014, era possível ver vários símbolos nazistas, fotos de Stepan Bandera e símbolos dos grupos colaboracionistas ucranianos que apoiaram a invasão de Hitler. Esses protestos, simbolizados genericamente pelo Euromaidan, derrubaram Yanukóvytch.

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Surge um governo neofascista que além de proibir todas as organizações comunistas do país (matar centenas de comunistas e prender outros milhares), adota uma postura abertamente antiRússia e de apoio às iniciativas de provocação, como flertar com a OTAN

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Esse governo neofascista da Ucrânia começa a perseguir os chamados russos étnicos, avançar na proibição do uso do idioma russo, adotar uma política eugenista de separar "ucranianos" e "russos" a partir dos descendentes e criar toda uma retórica xenofóbica agressiva

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Por razões de identidade cultural, linguística, religiosa e defendendo a memória antifascista da União Soviética, a população de Donetsk e Lugansk se levanta contra o governo neofascista e proclama sua independência via referendo democrático e com amplo apoio popular

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O Governo Putin - ATENÇÃO - não queria reconhecer a independência de Donetsk e Lugansk e buscou um acordo militar com a Ucrânia - o acordo ou protocolo de Minsk - de cessar-fogo e fim da retórica e política eugenista e de flertes com genocídio do governo da Ucrânia

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O que aconteceu em seguida? Bem, os EUA seguiram vendendo bilhões em armas para Ucrânia, aumentando sua presença militar no Mar Negro, intensificando o aparato militar da OTAN nas fronteiras da Rússia e instigando o governo da Ucrânia a desrespeitar o Acordo de Minsk

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Esse ponto é fundamental: o Governo da Ucrânia desrespeitando o Acordo de Minsk seguiu BOMBARDEANDO Donetsk e Lugansk e perseguindo "russos étnicos" na Ucrânia e a política da Rússia foi tentar seguir na diplomacia (então, assim, não começou a morrer gente só agora)

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O Governo Biden sem popularidade (eleição legislativa chegando) e tentando tirar o mercado de gás europeu da Rússia (buscando, é claro, que os EUA forneçam o gás para Europa), aumenta a tensão e escala a provocação caminhando para colocar a Ucrânia na OTAN

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Em resposta, o Governo Putin reconhece - depois de anos - a independência de Donetsk e Lugansk, exige o reconhecimento dos termos do acordo de Minsk e que a Ucrânia não entre na OTAN - e o fim da expansão da OTAN para o Leste.

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Como nada disso acontece, e o Governo Biden, em outra provocação inacreditável, afirma que irá destruir o gasoduto Nordstream 2 (e o governo alemão simplesmente fica calado e concorda), o governo Putin reage agressivamente e começa uma operação militar na Ucrânia

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Então, assim, recapitulando.

- Estados Unidos QUEBRAM acordo ao final da Guerra Fria de não expandir OTAN para o Leste
- Em 2014 acontece um golpe neonazista na Ucrânia que coloca no poder um governo antirusso que aceita ser fantoche do "ocidente"

(continua)
- Esse governo neofascista da Ucrânia começa a perseguir "russos étnicos" e adota uma retórica genocida. Parte do povo ucraniano reage e declara independência em Donetsk e Lugansk
- Começa uma "guerra civil" na Ucrânia
- Um acordo de paz é fechado - Acordo de Minsk

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- EUA instiga o Governo da Ucrânia a cada vez mais quebrar os termos do acordo de Minsk.
- Há anos o povo de Donetsk e Lugansk é atacado e BOMBARDEADO (não começou agora).
- Governo Biden aumenta a provocação e avança com a ideia da Ucrânia entrar na OTAN.

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Chegamos onde estamos. E não, não se trata de dizer que a Rússia é santa ou algo do tipo. O fato objetivo é: os Estados Unidos e a OTAN buscaram esse conflito, quebraram seguidos acordos de paz e colocaram o Governo russo numa situação onde a resposta militar era previsível

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O que defender? a) acordo de paz entre Rússia e Ucrânia com compromisso da Ucrânia não entrar na OTAN; b) respeito a soberania de Donetsk e Lugansk; c) Fim da OTAN; d) retirada de todas as bases militares dos EUA da Europa; e) fim das provocações do Governo Biden

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Nesse processo, apoiar e fortalecer uma rede de solidariedade aos comunistas da Ucrânia para que eles possam "aproveitar" esse momento para derrubar o regime neofascista, acabar com o anticomunismo oficial e reconstruir a Ucrânia em bases socialistas e anti-imperialistas!
Dicas de livros e sites para acompanhar com mais profundidade a questão

Sobre a histórica expansão da OTAN para o Leste após o fim da URSS - A esquerda ausente de Domenico Losurdo.
Para pensar de forma mais geral a estratégia dos EUA - A Segunda Guerra Fria de Muniz Bandeira.

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Para pensar em longa duração histórica o imperialismo estadunidense - Formação do império americano de Moniz Bandeira
Para pensar a geopolítica nos últimos anos - A desordem mundial de Moniz Bandeira

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Para abordar a política externa dos EUA em longa duração histórica e suas fontes teóricas, dois livros - A linguagem do império de Domenico Losurdo e A política externa norte-americana e seus teóricos de Perry Anderson.

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