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Muitos justificam uma recomendação com base no múltiplo P/E (price/earnings ou preço/lucro em português) que uma ação negocia. "A ação negocia a 15x P/E vs. 20x média histórica, então está barata".

CUIDADO!

Nessa thread vou contar como você deveria ler o P/E Segue o fio ✍
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"A empresa XYZ vai crescer lucro 15% ao ano e por isso deveria negociar a uma média histórica de 20x lucros, enquanto o atual preço da ação implica em um P/E de 15x”
Se você justificar sua recomendação dessa forma, vc está fazendo uma bela de uma cagada (me perdoe o francês)
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O que gera valor para uma ação não é apenas o crescimento dos lucros, mas sim a qualidade desse crescimento 🧐

Por que algumas empresas negociam a 30 vezes lucros enquanto outras negociam a 20 vezes? 15 vezes? 10 vezes? 5 vezes? 👇
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Uma ação que negocia a 5x não necessariamente está barata, assim como aquela que negocia a 50x não está cara. O múltiplo apenas nos indica o preço que o mercado tem topado pagar pelo lucro da companhia. Cabe a você avaliar se concorda ou não.

Vamos ao que interessa 👇
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O P/E é uma função do:
1) retorno que a empresa gera sobre o investimento feito "ROIC"
2) lucro retido pela empresa (para que possa reinvesti-los com o mesmo retorno) e
3) crescimento de lucros, que acaba sendo uma variável que depende diretamente do ROIC e do lucro retido
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Além disso, taxa de desconto, expectativa de inflação, tributos, prêmio de risco e competição na indústria são variáveis importantíssimos para avaliar corretamente o múltiplo

Vou destrinchar a fórmula do P/E com o objetivo de facilitar o entendimento. Espero que funcione 👇
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P/E = (1 - b) / k - g, onde:

b = lucro retido pela empresa
k = taxa de desconto
g = crescimento de lucros

Ou seja, se uma empresa retém 35% dos lucros para novos investimentos, tem um g de 5% e uma taxa de desconto de 10%, então:

P/E = (1 - 0,35) / (0,1 - 0,05) = 13 vezes
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Veja que se o g fosse de 6% e a taxa de desconto de 9%, então o P/E seria de 21,6x.

Viram como o múltiplo varia a depender do quanto a empresa cresce e quanto a taxa de desconto cai?

Não à toa, os múltiplos das empresas contraem quando a taxa de desconto sobe.
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Vimos isso recentemente no Brasil. Em uma empresa que não cresce (g = 0%), P/E = 1 / taxa de desconto.

Quanto maior a taxa de desconto, menor o múltiplo.

Aqui temos um conceito importante! Se a empresa tem ROIC = taxa de desconto, então CRESCIMENTO NÃO GERA VALOR.
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É por isso que o aumento do lucro por ação, sozinho, muitas vezes não quer dizer ABSOLUTAMENTE NADA. Pelo contrário: A maior armadilha de preço de uma ação vem justamente quando a companhia reporta crescimento de lucros acompanhados de um ROIC abaixo do custo de capital...
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(leia-se, a empresa está destruindo valor aos acionistas). E, nestes casos, quando o múltiplo contrai por conta de um maior denominador (Lucro maior faz o múltiplo P/L cair), não quer dizer que a ação está mais barata. Ou seja, ela merece passar a negociar a esse desconto.
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O g é uma função do lucro retido e do ROIC (ou ROE, dependendo da empresa analisada)
g = ROIC * lucro retido

Por isso que uma empresa que cresce e tem ROIC crescente e elevado deveria ter um múltiplo P/E maior do que uma empresa que possui ROIC = taxa de desconto (ou WACC)
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Portanto, tome cuidado ao encontrar justificativas de recomendação com base no crescimento do lucro por ação (LPA). Crescimento do LPA não diz nada sobre a atratividade da empresa. A análise do ROIC e dos investimentos deve vir antes da análise do crescimento do lucro.
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Se a empresa gerar valor, ela deveria sim negociar com prêmio vs a empresa que não tem ROIC acima do custo de capital.

Agora, bora curtir o sabadão.
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