"os efeitos catastróficos destes fenómenos climáticos extremos farão cada vez mais parte das nossas vidas" diz o lisboeta enquanto a metade errada do país arde todos os anos à hora certa.

quando tinha 10 anos ardeu de tal maneira que o céu ficou cor-de-laranja durante três dias. foi a primeira vez que vi uma casa a arder.

o meu pai foi identificado pela GNR por chamar os bombeiros demasiadas vezes na mesma semana.

um vizinho estropiado da guerra colonial, zarolho e coxo, pastor e lavrador, sem capacidade mental para assinar por si próprio, foi interrogado sozinho e forçado a confessar fogo posto sem provas, passou um ano na prisão sem julgamento.

todos os anos morrem bombeiros voluntários, miúdos e miúdas acabados de sair da escola, pais e mães de família com um ou dois trabalhos que podem ser chamados a qualquer momento para ir para o meio dum eucaliptal privado apagar um incêndio "inevitável".

portanto ya, já fazem parte das nossas vidas, só não é das vidas de toda a gente.