Fio sobre racismo, xenofobia e colorismo na China.

O assunto é bem complexo, mas pra começar, a tradução literal de China, em mandarin, é Reino do Centro. O q importa é ser chinês. Se vc não é, já está errado. A China é um dos poucos países do mundo no qual um
filho de chineses nascido fora do país não é automaticamente chinês. Além disso, nada de dupla nacionalidade. Se vc quiser ter outra nacionalidade, esquece a chinesa; tem alguns colegas aqui na NYU Shanghai q nasceram na China, viraram cidadãos americanos depois do doutorado
nos EUA e hj tem os mesmos direitos que eu tenho vivendo como imigrante aqui. Esse nacionalismo cruo acaba, obviamente, se combinando com outros fatores para gerar um racismo diferente do q entendemos por isso no Brasil. O racismo é em parte xenofobia e jingoísmo. Mas só em parte
Sobre colorismo: ser o mais branco possível é o ideal. A razão não é nenhuma tara com o Ocidente, mas simplesmente pq se associa alguém ser bronzeado com ser agricultor e, portanto, pobre. Aqui, as pessoas fogem o máximo possível do sol. Praia?
Duas histórias sobre racismo aqui. Uma, com um aluno negro americano da NYU Shanghai, q disse q veio pra instituição pq estava cansado do racismo descarado na cidade dele, na Califórnia. Ele tinha bolsa completa pra estudar graduação e mestrado, desde q fizesse os cursos nos EUA
Preferiu vir pra NYU pq aqui na China não ia enfrentar os problemas nos EUA. “Mas o racismo existe na China. Como vc faz pra lidar com isso aqui?”, perguntei. Ele: “Ah, aqui é diferente. Não tem a agressividade q vivencio nos EUA, não me sinto inseguro. Tem um quê de curiosidade
até, pois muita gente nunca viu nenhum negro de perto. Claro q tem racismo aqui, mas é completamente diferente do q há nos EUA”. Outra, com uma amiga, q virou colega, q trabalha em outra instituição, casada com estrangeiro. Ela já morou na Inglaterra, Israel, e é muito viajada,
não é alguém q simplesmente passei uns anos fora e voltou logo. Numa das nossas conversas, perguntei o q era estar casada com estrangeiro. Ela: “Meus pais me disseram q no exterior eu podia namorar quem eu quisesse, mas q quando voltasse pra China, era pra me casar com um chinês.
Esse negócio de casar com gringo era roubada” Obviamente, ela não fez o q os pais queriam. Entre outros assuntos, perguntei: “Mas e se o gringo fosse negro, haveria problema?” “Sim!” Ela me disse imediatamente, de forma até brusca. “Seus pais não aprovariam?” “Não, nada disso.
Eu é q não aprovaria!”. Não dá pra colocar o racismo na China na mesma medida do q acontece no Brasil ou nos EUA. Aqui tem sim colorismo e racismo, mas ele começa na ideia de q ser chinês é o q importa. Bom, é isso. Espero q o fio dê uma ideia de como as coisas acontecem por aqui
Uma observação sobre a minha colega: na China há diferentes normas sociais. Questões como: "você casaria com um gringo?" são respondidas com muita naturalidade. Não há maldade na resposta dela, só não há nenhuma vergonha em ter uma preferência explícita sobre a cor de um parceiro
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