Existe algo que faz com que Bolsonaro, matando gente a rodo, seja mais popular que Doria, que promoveu esforço real pela vacina. É uma leitura política, mais do que marketing. Uma perspectiva. Bolsonaro mata gente pois renega a elite, enquanto Doria a representa. ->
Todo o discurso bolsonarista se constrói na crença de que há um combate contra uma elite global gananciosa e seus valores impostos “top-down”. É a base do discurso populista de hoje, e parte de premissas que não estão completamente erradas. ->
O problema em sua crença é que ela valida a ignorância e o absurdo como respostas “populares” ao avanço dessa elite, e isso se dá em muitos campos. No campo cultural, soa caricato, e não machuca ninguém. Mas numa pandemia, mata. ->
As teorias malucas e a sabotagem de Bolsonaro à vacina fazem parte do pacote. Ele e seus pares populistas veem a pandemia como “janela de oportunidade” para que a dita elite global imponha seus consensos, seu vocabulário e sua “ditadura” sobre o “cidadão comum” ->
Para eles, portanto, o momento é de combater tais consensos, e não a pandemia em si. Como são desprovidos de qualidades morais básicas, ignoraram as consequências da pandemia. Enfiam remédios inúteis e enxergam o momento como chance de “acirrar constradições” ->
É por isso que tentam, a todo custo, jogar o “cidadão comum” contra as medidas de isolamento. Essa luta, no fundo, é um “proxy” da batalha profunda que querem liderar, entre o “povo” contra as “elites”. O povo, obviamente, é sua bucha de canhão. ->
A estratégia funciona, parcialmente, pois o povo vê verdade em sua leitura de jogo. Um cidadão normal não consegue crer que um ator milionário, um jornalista hipócrita ou o João Doria estão loucos pra “salvar vidas”. Na verdade, ninguém consegue. ->
Só o fato de Bolsonaro não ser linchado em público mostra o sucesso da estratégia. Apelar para esse sentimento de repulsa às elites hipócritas é terrivelmente poderosos. E é verdadeiro. Pro inferno com seus apelos de “fica em casa”, “vida”, “Sus”, “ciência”. ->
A elite, encarnada por Doria, pode até estar certa em grande medida no combate à pandemia. Mas enxerga o momento como um grande espetáculo para validar sua superioridade moral e seus pruridos humanistas. É um desfile de babacas e hipócritas. ->
Fossem honestos e sinceros como Bibi ou Boris Johnson, e Bolsonaro estaria liquidado. Mas a verdade Ă© que eles GOSTAM de viver esse momento. EstĂŁo apaixonados pela aventura apocalĂ­ptica. Amam seu home office de moletom e liquidez na bolsa. E nĂŁo vĂŁo mudar, pois vĂŁo vencer ->
A luta de Bolsonaro — não falo aqui da sua psicopatia, narcisismo e ignorância absolutos — é o que lhe garante mais que 15% de aprovação. É a fé na sua tese, e não haveria de ser diferente. Foi isso que o levou ao poder. É nisso que ele crê para lá permanecer.
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