Omissões.

No artigo publicado na Folha de SP defendendo Hannah Arendt, os autores dizem que nazismo e comunismo assumem uma "lei incontornável da história". É a velha crítica da teleologia. A insustentabilidade dessa crítica é bem fácil de mostrar. Apenas um exemplo.
Toda história moderna do ocidente pode ser lida, também, a partir da expressão de uma filosofia da história teleológica, agressiva e colonialista. Primeiro, na versão religiosa, o futuro da humanidade era todos seguirem a palavra de Cristo e era missão dos europeus catequizar +
o mundo. O processo de colonização, extermínio dos povos originários, escravidão e a própria empresa colonial tem como justificativa essa ação humana que não era bem uma ação, apenas a materialização do devir do mundo já escrito na história por Deus. Teleologia pura e concentrada
Com a consolidação do capitalismo, no século XIX, o discurso teleológico passou a ser o de exportar a civilização e a superioridade do homem branco. Lembram dos discursos sobre o "fardo civilizatório do homem branco"? Pois bem, milhões de humanos foram exterminados +
tendo como justificativa a ideia de que era preciso levar a civilização para todo mundo. Na prática, de novo, tratava-se de apenas cumprir a missão já inscrita na História de fazer triunfar a civilização no mundo todo. Podemos operar um breve salto histórico e chegar no séc. XXI.
Hoje o discurso é levar a democracia, direitos humanos e liberdade para o mundo todo. Essa missão, também teleológica, pode e deve se realizar a partir de guerras, bombas, OTAN, invasões, golpes de estado. Matar milhares e milhões. Aliás, a ideologia oficial dos EUA é que o país+
é uma espécie de "povo eleito" por Deus, comportando uma particularidade civilizatória única, e que deve exercer mandato global e garantir a vitória da "liberdade e democracia" no mundo todo. Desde Henry Kissinger até Bush, o discurso religioso, atemporal, teleológico, agressivo+
e colonizante é parte da ideologia oficial dos EUA. E o que os EUA fazem é "apenas" assumir e radicalizar uma longa tradição ocidental. Mas os autores do artigo, para sustentar a noção de totalitarismo, simplesmente não conseguem ver, omitem, que se é prova de totalitarismo +
uma teleologia da história agressiva, violenta, que não suporta dissidência e que busca eliminar aqueles que se opõe a realização da meta inscrita na História, teremos que dizer que o Ocidente é a PERSONIFICAÇÃO DO TOTALITARISMO. A sua máxima expressão. A sua realização.
Vamos assumir essa perspectiva teórica? Imagino que não.

Na dúvida, leiam Discurso sobre o colonialismo de Aimé Césaire!
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