Bom dia. Prometi um fio sobre como valores e princípios liberais estão ingressando no campo da esquerda brasileira. Então, lá vai
1) O debate sobre a via liberal é antiga no campo da esquerda. Na início do século XX, tivemos a famosa proposta sobre a via parlamentar reformista, liderada por Kautsky e Berntein.
2) Mais recentemente, o eurocomunismo e, ainda mais próximo do nosso tempo, a discussão sobre a Terceira Via na Inglaterra (com Tony Blair assessorado por Anthony Giddens) trouxe valores liberais para o debate de uma vertente da esquerda europeia
3) Lembro da discussão na Democratici di Sinistra (ex-Partido Comunista Italiano) sobre a fusão com Margherita (partido liberal). Estive presente no congresso realizado em Florença. Gente do PPS e do PT estavam por lá. Escrevi um breve artigo a respeito https://www.acessa.com/gramsci/?page=visualizar&id=718">https://www.acessa.com/gramsci/...
4) Neste congresso em Florença, sentei com representantes da esquerda de vários países europeus. Com os socialistas da França, perguntei o motivo de perderem musculatura eleitoral. A resposta de um importante dirigente francês foi: "não nos diferenciamos mais da direita"
5) Contudo, no Brasil, esta confusão parece ainda mais perniciosa. Houve, em determinado momento, uma onda pragmática que arrastou a esquerda para uma guinada à direita. Avalio que esta guinada teve início na segunda metade dos anos 1990.
6) O pragmatismo bebeu, inicialmente, numa leitura sobre a correlação de forças restrita ao campo institucional. Sugeria que para ter poder seria preciso ter governos e parlamentos. E, para isso, deveria se acomodar às intenções populares, eleitorais
7) Então, por esta vertente, se a maioria dos prefeitos e parlamentos eram compostos por gente de centro-direita, era sinal que o eleitorado tinha este perfil. A tarefa pedagógica da esquerda, de debate e polarização sobre valores, foi abandonada
8) O primeiro movimento foi parte da esquerda focar no marketing político. Passou a vender candidaturas emolduradas em imagens palatáveis, candidatos "paz e amor"
9) A moldura marqueteira vende, mas não muda a realidade. Ao contrário: reforça vícios, tendências. Na melhor das hipóteses, cria intenções inconscientes, manietadas pelo marqueteiro, muito longe da construção da autonomia popular.
10) A partir daí, a esquerda brasileira abriu a comporta. Alianças com centro-direita ou direita passaram a dar o tom. Este tinha sido o modelo adotado por FHC na dobradinha PSDB-PFL. O PT adotou o mesmo viés, com o PL. Mas, não foi só. O governo passou a adotar o liberalismo
11) A área econômica do governo Lula foi toda tomada por liberais sob a liderança de Palocci. Já citei aqui o documento Agenda Perdida, formulado por economistas da FGV e PUC RJ e gente que apoiou, mais tarde, a candidatura de Aécio Neves, como Samuel Pessôa.