A PAZ DOS CEMITÉRIOS. Cada vez mais está clara a tolerância a um "governo Figueiredo" recauchutado, cada vez mais tocado pelos militares aposentados. O espírito autoritário encontrou o tom da tradição brasileira: é mole, malandro, cínico, ensaboado, escorregadio. Segue o fio...
Ao assumir, o governo Bolsonaro não tinha nada, a não ser manipulação digital, e gente inexperiente, burra e grossa. Hoje ele já sedimenta, com método próprio de cooptação e técnicas novas de "governabilidade" comprovadas.
O Pazuello é um exemplo de técnica bem sucedida de neutralização e apagando da área conflagrada com sua presença/ausência, que vai se replicando para outras áreas. Deu problema? Nomeie gente que nada entenda do assunto. Ela desaparece por omissão e paralisia.
Ao mesmo tempo, a consciência jurídica do país vai erodindo. Na área jurídica, você tem a difusão de uma mentalidade antijudiciarista, baseada na recuperação da doutrina da razão de Estado e de separação estrita de poderes. Começou no tempo do Temer, quando o Moraes era ministro.
Justificou a absolvição dele no TSE. Enquanto isso, o governo leiloa os cargos de ministro do STF, cooptando os juristas ambiciosos, arrivistas e/ou oportunistas, e engambela a autoridade do tribunal por meio de mil malandragens. Diz que há e não há dossiê de arapongagem, etc
No campo partidário, o presidente largou o governo nas mãos dos militares e partiu pra campanha da reeleição. Deixou o exótico e periclitante trumpismo de lado para apostar mais fortemente no "lulismo às avessas".
Vai descobrindo aos poucos e apostando, corretamente, na tradição nacional. Passou a distribuir cargos de segundo escalão pro centrão, fingindo, por não dar do primeiro, que não está fazendo presidencialismo de coalizão. O Rodrigo Maia já disse que não vai rolar impeachment.
Todo mundo está cansado, ninguém aguenta mais briga depois de 7 anos. O país já normalizou o morticínio da COVID. O desvelamento da tentativa de golpe militar pela Piauí caiu no vazio. Os escândalos do Flávio e da Michele Bolsonaro derrubariam a república quatro anos atrás.
Hoje ninguém quer saber. Restaurar autoridade, nesse país, também significa restaurar impunidade. Enquanto isso, a incapacidade de articulação da oposição, o oportunismo dos políticos profissionais e a burrice da esquerda parecem infinitos.
Os escândalos de corrupção, seguidos pelo lavajatismo e do apoio dado pela grande imprensa, e da polarização sustentada pelo petismo, por anos a fio, esfarelaram o espírito progressista que animava as estruturas democráticas.
Muita gente cansou de ouvir falar em democracia, liberdade, igualdade, políticos, minorias, supremo, partidos. Elegeram um autoritário antissistema para "mudar o disco" e lhe deram carta branca para fazer o que quiser em troca de paz.
Bolsonaro demorou, mas percebeu enfim o caminho da estabilidade.

Será a paz dos cemitérios.
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