Uma nota sobre política e subjetividade.

Eu, de verdade, entendo quem se sente abatido, arrasado, com a atual conjuntura. Para algumas pessoas, o Brasil caminhava bem, estávamos num sonho, ou quase sonho, e ele virou pesadelo. Contudo, uma questão: alguns nunca viveram sonhos +
com 11 anos de idade, tirei meu RG. Minha mãe me ensinou a SEMPRE andar com o RG no bolso. Sabe o motivo? Se eu for morto o corpo ser identificado. Ainda com 11 anos, meu pai foi assassinado por um grupo de extermínio. Dos 11 anos 16 anos, vi no mínimo 20 amigos assassinados.
quando eu fiz 20 anos, minha mãe meu deu os parabéns e, talvez sem perceber conscientemente, comemorou o fato de eu ainda ESTÁ vivo. Até meus 20 anos, meu sonho profissional era ser porteiro de prédio. Queria um emprego que não ficasse no sol e nem carregasse peso.
de onde eu vim, da Favela da Borborema, a polícia nunca deixou de matar. Os adolescentes nunca deixaram de morrer. Minha casa continuavam alagando. Passei quatro anos da universidade vendendo caldinho na praia para me manter na universidade. Nunca vi sonho nenhum.
para alguns, a famosa maioria, a vida sim, melhorou um pouco nos anos do petismo, mas continuou uma MERDA. Da minha geração da favela da Borborema, de uns 600 adolescentes, 7 ou 8 fez curso superior. Da minha turma da segunda série, tá vivo eu e mais outro. Geral morreu.
então, assim, entendo total e perfeitamente a gravidade da situação e os riscos que vivemos. Não tô triste, deprimido, cansado e nem nada do tipo. E isso não é fruto de formação teórica. É fruto de viver na base da luta de classes no Brasil. Se fosse para desistir, teria feito +
quando meu pai foi assassinado, ou quando meu prof. de capoeira, Juruna, foi morto com um tiro no olho tirou a 150 metros da minha casa. Ou quando com 14 anos tive que começar a trabalhar vendendo jornal no sinal de Boa Viagem e ganhando 4 reais por dia.
A vida no capitalismo é dura, meu amigo. Para muitos de nós, para a maioria, a questão nunca foi passar num bom concurso, fazer a faculdade, ou ter um bom salário, mas não morrer antes dos 20 anos.

Quero diminuir a dor e o sofrimento de ninguém!
mas sim, questiono se na hora de sofrermos, consideramos o sofrimento que nos cerca. Se consideramos o sofrimento da maioria. Do povo trabalhador.

Pense nisso e escute todos os CDs de Facção Central.
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