O tal @AdrillesRJorge falando que é muito difícil ser branco no Brasil e que as escravas não era estupradas, mas namoravam os senhores é o motivo pelo qual eu vivo falando que a imprensa tem que parar imeadiatamente de dar voz a esses tipinhos sob a égide do outro lado.
O outro lado é a exigência ética do direito à defesa de uma pessoa acusada de um crime. O outro lado é o direito ao contraditório, mas COM BASE EM FATOS! É uma ferramenta para prevenir injustiças, não para promover mentiras e negacionismo histórico baseado em delírio sociológico.
Mas a Jovem Pan e a CNN Brasil estão claramente pouquíssimo interessadas em jornalismo. Estão interessadas em buzz, em clique, em “quem causa mais na casa”, porque a cultura do reality show contaminou todas as instituições democráticas.
Do jornalismo às eleições, usamos a lógica dos realities para embasar debates (ele fala merda, mas dá clique) ou “o presidente fala aquilo que o povão quer pôr pra fora” ou “ele é machista e homofóbico, mas pelo menos não rouba”.
Eu acho que a gente que é democrático de verdade tem que mostrar nosso descontentamento com esse tipo de postura parando de seguir e de divulgar conteúdo desses veículos que apelam pra gente desqualificada pra debate.
Caio Coppola, Adrilles sei lá das quantas, Sara Winter não têm absolutamente NADA a oferecer. “Ah, mas o @felipeneto... Ele é influencer...” Sim, e ele ganhou respeito exatamente porque ele realmente em algo a falar em defesa dos fracos e oprimidos.
E o princípio máximo da liberdade de expressão é DAR VOZ AOS OPRIMIDOS, não aos opressores, não aos ignorantes, aos que negam a ciência, aos que claramente desconhecem o assunto que se propõem a debater.
E já que estamos falando sobre as relações amorosas entre senhores e escravos, vou falar um pouquinho do presidente Thomas Jefferson, terceiro presidente americano, comprou a Louisiana de Napoleão Bonaparte por US$ 16 milhões e expandiu os Estados Unidos de 16 para 36 Estados.
Jefferson é muito conhecido por ter escrito a Declaração de Independência dos EUA, que em sua primeira versão tinha um artigo abolindo a escravidão, mas que foi retirado da versão final entregue em 4 de julho de 1776.
Quando a gente visita o Thomas Jefferson Memorial em Washington DC a gente lê nas paredes frases célebres de Jefferson e, entre elas, está uma que fala sobre como ele considerava a tráfico de escravos um tipo de despotismo.
Nada disso, no entanto, impediu Jefferson de ter 607 escravos, afinal embora fosse um advogado brilhante, arquiteto, seus lucros vinham mesmo era da exploração da escravidão negra.
Jefferson também, usando a lógica do tal Adrilles, “namorou” uma escrava chamada Sally Hemings. Ele era casado, claro, mas começou seu “romance” com Sally quando a moça tinha... 14 ANOS. Como chama isso hoje em dia? Acho que é pedofilia, né?
Não bastasse isso, Jefferson teve com Hemings 6 filhos, TODOS SEUS ESCRAVOS. Mas os dois se amavam muito, diz a mentalidade romântica branca sulista confederada. Sei lá como essa gente consegue equalizar amor com propriedade, mas vá lá.
Em 1785, Jefferson se torna o embaixador dos EUA na França e se muda pra Paris. E, claro, leva Sally consigo. Lá, ele tem um acesso de bondade e decide dar a liberdade a sua propriedade que ele amava tanto. Só quem 1789 estoura a Revolução Francesa, e Jefferson decide voltar.
Só que pra voltar com ele, Sally tinha que voltar a ser escrava, porque ia pegar muito mal pra sociedade puritana americana um romance do senhor com a escrava, especialmente sendo ele casado.
Sally então propõe uma troca: sua liberdade pela de seus filhos, os escravos de Jefferson. Ele promete que sim, mas voltando dá liberdade só para dois.
Sally teria tido 5 ou 7 filhos com Jefferson. Outros dizem que um de seus filhos era, na verdade, filho do irmão mais novo de Jefferson. Ah, que danadinha essa Sally, hein? Trocando de namorado assim, com total liberdade, em um sistema que punia qualquer deslize com chicote.
Ou seja, isso apenas evidencia a natureza das relações sexuais de uma escrava com seus senhores: o estupro. Se não com violência física, através de um consenso de que melhor isso que ser torturada ou morta e deixar os filhos sozinhos nesse ambiente super familiar.
A história de Jefferson e dos decendentes de Sally é contada no mais novo museu do Instituto Smithsonian em Washignton DC. Inaugurado em 2016, o Museu Nacional de História e Cultura Afro-Americana foi construído no governo Obama e doações de personalidades como Oprah Winfrey.
E ali até mesmo nós que somos brasileiros encontramos dados sobre o tráfico de escravos em direção ao nosso país. No subsolo, onde começa a exposição histórica, encontramos os nomes de todos os navios negreiros que partiram da África com número de embarcados e desembarcados.
Inclusive, se um dia você quiser conhecer a capital americana e precisar de um guia, fale comigo. Fora da pandemia, nas férias de verão, chego a fazer até quatro excursões históricas para Washington onde você também pode conhecer mais da cultura americana.
O artigo é de uma série do jornal inglês chamada long-lead e mostra que o país pagou uma fortuna pela abolição, mas aos senhores de escravos, não aos escravizados. E descreve as crueldades feitas com os escravos.
Entre elas estava adivinhem o que? Estupro. O artigo fala de um senhor de escravos na Jamaica, se não me engano (li faz tempo), que tinha um caderninho com os nomes das mais de 3.000 escravas que ele estuprou.
O mesmo senhor descrevia as torturas aplicadas aos rebeldes. Tem uma que me deixou com um ódio profundo. Ele manda dar umas 10 ou 12 xibatadas e depois manda o carrasco literalmente cagar na boca do escravo e tapar com uma focinheira por umas seis horas.
Sim, tem que assinar e saber inglês, mas, gente, jornalismo só vai parar de apelar pra sensacionalismo quando tiver gente interessada em pagar por conteúdo. Nosso trabalho custa.
Por que recomendo essa série? Pq ela tem muitos pesquisadores e intelectuais negros escrevendo sobre o tema. E lembro de um dos artigos que me chamou muito a atenção que falava sobre o método de produção nas fazendas de algodão.
Esse artigo diz que a burocracia da fazenda de algodão fundou as bases do capitalismo americano moderno. Vejam como isso se relaciona diretamente com nosso presente.
Você já foi balconista ou conhece alguém que jeca foi ou é vendedor? Sabe aquele sistema de cota de venda, que aumenta todo mês? Aquilo ali é um resquício da escravidão.
Nas fazendas de algodão cada escravo tinha uma cota de libras de algodão a colher por dia. Quem não cumprisse, recebia o mesmo número faltante de libras em xibatas. E quem cumprisse ou excedesse, no dia seguinte teria sua cota aumentada. Viram como é tudo lindo no capitalismo?
E já que vocês chegaram até aqui, vou vender meu peixinho: semana que vem eu e a @BertJoi vamos debater a série “Little Fires Everywhere” e “Mrs. America” no meu canal do YouTube @trashaoclassico. O tema é feminismo e interseccionalidade. Sigam o nosso perfil e o canal.
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