Apesar de todos os escândalos recentes do governo Bolsonaro, inclusive sua incompetência e descaso perante a pandemia, muitos evangélicos ainda insistem em apoiá-lo. Enquanto cristão e cientista político, tenho tentado entender melhor isso. Segue um "fio" com minhas impressões:
1. Para muitos evangélicos, vivemos em uma "guerra cultural" e, para vencê-la, precisamos de pragmatismo. Isso inclui fazer vista grossa a falhas morais de líderes de direita desde que eles se comprometam com a defesa de pautas como liberdade religiosa e criminalização do aborto.
3. Ao mesmo tempo, outros teólogos conservadores também têm ressaltado não apenas a importância da moralidade na política mas também de outras pautas igualmente cristãs que geralmente são negligenciadas por esses líderes direitistas por serem associadas à esquerda.
4. Dentre essas pautas, estão o racismo e imigração, questões importantes, nos EUA, principalmente para cristãos conservadores latinos e negros. Um dos principais autores cristãos que têm chamado atenção para isso é o David French. https://providencemag.com/2020/05/why-christian-pragmatism-isnt-realistic-enough/
5. Noto que no Brasil as discussões têm sido semelhantes no meio evangélico. Porém, sem essa articulação intelectual que ocorre nos EUA e, geralmente, marcadas por acusações mútuas de falta de ortodoxia ou idolatria política, o que não ajuda muito.
6. Ambas acusações, porém, têm um fundo de verdade: afinal, há "cristãos progressistas" que, ao adotar certas agendas políticas se distanciaram completamente da fé cristã ortodoxa, relativizando elementos centrais do Cristianismo em nome de políticas identitárias e afins.
7. Por outro lado, muitos cristãos conservadores que corretamente apontavam esses erros, além de terem apoiado Bolsonaro nas eleições, hoje permanecem em completo silêncio quanto aos erros do presidente. Isso faz com que as acusações de idolatria tenham certo fundamento.
8. No meio disso tudo, vemos cristãos sinceros que não se encaixam em nenhum dos dois grupos e muitas vezes não sabem direito como agir, temendo gerar ainda mais divisões e agir sem caridade. É onde me encontro.
9. A minha proposta é que adotemos o mesmo debate dos EUA, onde há conservadores cristãos a favor e contra Trump, adaptando-o para o nosso contexto. Um debate entre "moralistas" e "pragmáticos", algo bastante compatível com a ética bíblica.
10. Isso permitiria, por exemplo, o surgimento de uma oposição cristã conservadora contra Bolsonaro que não se confundiria com a chamada "esquerda evangélica". Também possibilitaria um diálogo melhor entre os próprios cristãos, sem julgamentos mútuos e mais caridade.
11. Essa seria uma tentativa de diminuir a polarização no seio evangélico e, consequentemente, em parte significativa da sociedade brasileira. Talvez essa proposta não seja muito realista em círculos neopentecostais e/ou onde Olavo de Carvalho tem grande influência.
12. Acredito, porém, que no meio reformado/calvinista em que em que me encontro, pelo menos em termos intelectuais, temos todas as condições de iniciarmos esse debate. Oro para que Deus nos ajude nesse sentido, pelo bem de Sua Igreja no Brasil.
You can follow @igorhsabino.
Tip: mention @twtextapp on a Twitter thread with the keyword “unroll” to get a link to it.

Latest Threads Unrolled: