Vistos os dez episódios de #TheLastDance, duas vezes cada, aqui vão alguns comentários sobre três momentos marcantes de um documentário histórico. Não, não se trata de um ranking. E não, você não precisa ter essas mesmas impressões. É apenas um relato particular.
O primeiro talvez seja o maior elogio jamais feito a Michael Jordan. Não foi uma frase, nem mesmo uma palavra. Foi uma expressão sonora, o que se chama de onomatopeia. Seu autor foi o jogador favorito de Jordan. Magic Johnson (Ep1, 37:14) descreveu o impacto inicial de...
... Jordan na NBA, mencionando seus atributos: "O equilíbrio, o trabalho de pés, os fundamentos... o cara era hmmm... huhmm". O final da frase é dito balançando a cabeça, como se ele estivesse - talvez estivesse mesmo - se referindo a alguém que não poderia existir. Veja, não...
... é a leitura de uma pessoa comum. Johnson é um dos maiores jogadores de basquete de todos os tempos, alguém que possui virtudes inimagináveis até mesmo para esportistas profissionais. É é esse cara que, com esse jeito de falar e a expressão em seu rosto, está dizendo "como...
... seria bom se eu fosse assim". Calcule o que isso significa no sentido da percepção que os demais jogadores tinham de Jordan, e, consequentemente, da distância que seu jogo estabelecia para o jogo de todos os outros. Se Magic Johnson queria ser como Jordan, o resto da NBA...
... deveria realmente enxergá-lo como um ser de outro planeta, o que ajuda a explicar como e por que algumas coisas aconteceram dentro e fora da quadra, e, de forma enfática, encaminha a discussão sobre o melhor de todos a um destino muito claro sob o ponto de vista de quem joga.
O segundo momento é uma declaração de Dennis Rodman (Ep3, 44:00): "Eu jogo de graça. Sou pago pela sacanagem". A legenda em português - único aspecto negativo da série - escolheu "sacanagem" como tradução de "bullshit". Talvez fosse melhor abstrair e usar outra expressão que...
... representasse mais fielmente o que Rodman disse (esse é o papel da tradução, afinal), como "essa merda toda", por exemplo. Ele se referiu à magnitude da pressão do público, da mídia, tudo o que permeia a vida de um esportista desse nível, especialmente alguém com o perfil,...
... digamos, diferente como o dele. Vale lembrar que estamos falando do final dos anos 90, época anterior à neurose das redes antissociais, da multiplicação dessa pressão por intermédio da exposição da privacidade e da confusão exagerada entre o mundo do esporte e o mundo do...
... entretenimento. A frase de Rodman permite dois raciocínios. Um é o de imaginar como seria insano se a "Era Jordan" fosse contemporânea do Twitter e do Instagram. O outro é o de refletir como os mega astros de hoje (os Messis, os Federers, os LeBrons...) são capazes de...
... permanecer em seus olimpos por tantos anos, praticamente sem direito a uma atuação ruim ou a uma fraqueza que os aproxime de pessoas comuns. Claro, cada um é produto de seu tempo e, assim, existem bônus e ônus. Mas deve ser brutalmente difícil, todos os dias, sem exceção.
O terceiro momento é um rosto. A expressão de Larry Bird (Ep9, 11:15) após Reggie Miller acertar um colossal arremesso de três pontos para colocar o Indiana Pacers em vantagem, no jogo 4 das finais do leste, em 1998. Bird reagiu com preocupação, quase com desgosto, como se o...
... time dele tivesse sofrido a cesta. Não havia um mínimo sinal de satisfação em seu olhar. O motivo era óbvio: ainda havia sete décimos no relógio e Michael Jordan - como Ethan Hunt - era a manifestação viva do destino. Bird sabia que, para que os Pacers pudessem respirar,...
... o ginásio precisaria estar vazio por horas e Jordan trancado em seu quarto de hotel. Na última posse, a bola obviamente foi para as mãos dele e o arremesso entrou... e saiu. Os Pacers sobreviveram, mas não por muito tempo. O esporte proporciona situações que podem ser...
... descritas e dissecadas com o máximo capricho e informações abundantes, mas que não se aproximarão do que se passou pela mente dos envolvidos num intervalo de tempo impossível de identificar. O lendário Larry Bird, ele próprio um ícone deste jogo, ficou petrificado enquanto...
... a torcida do time que ele dirigia era tomada pelo êxtase de uma vitória iminente. Porque ele sabia que forças como Michael Jordan não podem ser controladas, e isso o fez sentir medo do que poderia acontecer em sete décimos de segundo. É uma das grandes imagens da série.
Para finalizar, já agradecendo a quem teve a paciência de chegar até aqui, o episódio 5 representa os melhores cinquenta minutos que já pude acompanhar num trabalho deste gênero. É simplesmente magistral, e não só por exibir o treino do Dream Team em 92. A propósito, o diretor...
... @jasonmhehir contou ao podcast "Jalen & Jacoby - The Aftershow" que, certo dia, enquanto trabalhavam no material que resultou na série, ele e sua equipe resolveram almoçar assistindo a todos os jogos treinos do melhor time de basquete jamais reunido. Que privilegio. (Fim)
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