1. A ILUSÃO DOS CENÁRIOS vs A REALIDADE DOS PREÇOS

Quantas vezes vc já ouviu a expressão ou chamadas dizendo q o cenário (macroeconômico, ou político) está favorável para o investimento em ações?
2. Ou ainda, expressões dizendo que a quantidade de incertezas e dúvidas deixam o momento desfavorável para se investir em empresas? Isso é muito comum. De tempos em tempos eles aparecem.
3. Se aprovar a reforma da previdência, é bom para investir, mas logo ali na frente havia um tradewar. Reforma tributária sendo negociada, país retomando o crescimento, mas logo ali na frente tinha um vírus.
4. Ou ainda em 2015 com Levy sendo demitindo, pedaladas fiscais em velocidade total, BC alvo de piada, o que tornava o ambiente super incerto, mas logo ali na frente tinha um Temer reformista.
5. Temos ainda um 2002 com Lula disparando nas pesquisas, fuga de capital, Brasil s/ dólar c/ risco Brasil nas alturas, empréstimo do FMI, sem luz no fim do túnel, mas logo a frente existia um ciclo de commodities somado com Palocci+Meirelles fazendo um mínimo de dever de casa.
6. Os cenários esperados, muitas vezes, servem apenas para descrever o momento atual, e quase nada sobre o que virá pela frente. É a narrativa muito bem escrita e logicamente encadeada para explicar o hoje, não o que virá pela frente.
7. A tranquilidade ao se comprar bolsa nos 110k-120k no começo de 2020 não enxergava nada sobre o covid de março.
8. Assim como o desespero de 2002 não enxergava o ciclo de commodities dos anos 2000s, e a certeza de nos tornarmos Venezuela em 2015 não dizia nada sobre o teto de gastos, lei das estatais, reforma trabalhista, reforma da previdência que viam pela frente.
9. Percebo hj as mesmas reações de final de 2015. E pra quem tem um pouco de memória, a mesma desesperança de 2002. E ao ver como os velhinhos fundamentalistas bilionários da bolsa reagem a tudo isso, fica evidente de qual é a solução para enfrentar e lidar com tudo isso: preço.
10. Eles não se preocupam com a próxima PEC que irá ser aprovada. Eles não têm ideia do PIB do ano que vem. Eles não sabem se a coleta de IPCA virá acima ou abaixo do esperado.
11. Não levam em conta cenários e mais cenários que explicam o humor de hoje para entender o que vai acontecer a amanhã. Amanhã ninguém sabe. Achamos que sabemos, mas não temos a menor ideia.
12. A única coisa que vc tem realmente condições de saber são coisas mais mundanas, mas simples, um pouco entediantes, nada sofisticado ou temas de discussões de altíssimo nível. São coisas do tipo: qto de caixa que a empresa tem? Tem vencimento de dívida pesado no curto prazo?
13. Quem é o dono da empresa? Quem é o presidente, de onde ele veio, como ele trabalha? Como que a empresa ganha dinheiro? Precisa investir muito todo ano para manter o nível de faturamento? Paga dividendo? Como a empresa vai crescer?
14. Vai precisar de dívida pra crescer ou consegue com recursos próprios? O negócio é bom? Os concorrentes estão apertando as margens? E por fim, quanto vale e quanto está na bolsa? Consigo comprar uma nota de 50 reais por 20 reais?
15. O preço é o seu passaporte para entrar no patrimônio de uma empresa. Curiosamente, quanto o cenário está "favorável", ele não está dizendo bulhufas sobre o que virá pela frente é apenas um sofisticado chute, mas ele tem a capacidade de fazer os preços subirem.
16. O seu tíquete de entrada como acionista numa empresa é bem mais caro quando o cenário está "favorável.
17. Da mesma forma, quando o cenário está "desfavorável", ele não tem ideia nenhuma sobre o que irá acontecer, é apenas uma forma bonita de se justificar o desespero de agora, e nada do que virá pela frente, mas ele tem a capacidade de fazer os preços desabarem.
18. O seu passaporte para se tornar acionista numa empresa é bem mais barato quando o cenário está "desfavorável. Ao longo dos 15, 20, 30 anos que vc ficará investindo em empresas, vc verá uma infinidade de cenários favoráveis e desfavoráveis.
19. Vc terá a falsa sensação q tudo ficará bem qdo o cenário estiver favorável, c/ preços altos na tela, e terá a ilusão que tudo ficará cada vez pior quando o cenário estiver desfavorável, c/ preços baixíssimos na tela. É claro que, como acionista, vc nunca tire o olho da bola.
20. Acionista bom é diligente, atento aos movimentos que a empresa faz, tanto para reconhecer acertos e criação de valor que as pessoas por trás do negócio realizam, tanto para identificar erros e destruição de valor que os executivos/donos estejam promovendo.
21. Se o valor desabou, foi abaixo do preço, venda. Se o valor criado foi grande, barateando ainda mais a empresa, talvez seja melhor até aumentar a sua participação. O ponto é, esteja atento. Mas lembre-se sempre que investimento em empresas é um movimento estrutural.
22. Criação ou destruição de valor são lentos. Raramente uma empresa toma uma atitude que a torna um lixo, ou uma estrela, da noite pro dia. Normalmente isso leva anos. Talvez uma das transformações mais rápidas e dramáticas que já vimos foi o da Magazine Luiza.
23. Mas poucos se lembram que a vinda do André Fatala (luizalabs) começou na Magalu há exatos 10 anos. Enfim, por mais que nos sentimos confortáveis sobre as análises de cenário sobre o futuro, nos dando a sensação de controle sobre as cenas dos próximos capítulos,...
24. ...a história insiste em nos mostrar que quando os cenários estão dramaticamente ruins, como hoje, o que acaba se desenvolvendo nos anos seguinte (2021, 2022, 2023, 2024...) é muito melhor que o esperado. E vice-versa.
25. Por isso q sempre vejo o mesmo tipo de reação nos velhinhos fundamentalistas bilionários da bolsa: caiu, compra. Subiu, vende. Mas e o cenário? Tanto faz, não adiante prever. A pergunta melhor a se fazer é: qto custa? Com cenário ruim, custa barato. Com cenário bom, caro.
26. Preços:
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