Fiz um apanhado de questões sobre a Globo e minha dissertação que não tinha tuitado no fio. Vou responder a alguns comentários que apareceram com alguma frequência. Lembrando que a íntegra da pesquisa tá aqui: http://tracc-ufba.com.br/wp-content/uploads/2016/10/DI-TF-01.pdf https://twitter.com/manucaferreira/status/1254033329621434368
Rolaram vários comentários sobre a relação da Globo com política ser anterior à Lava-Jato. Sim. Em um dos capítulos da dissertação, reconto as histórias das principais emissoras do país (SBT, Band, Record e Globo) a partir das relações entre cultura política e TV.
Então, tá lá o Jornal Nacional como o telejornal da integração nacional, dialogando com a ditadura. Uma referência fundamental pra esse capítulo foi A Moderna Tradição Brasileira de Ortiz. Um dos livros que eu usei quando dei uma disciplina sobre televisão brasileira (sdds).
Ortiz afirma que o investimento que o Estado ditatorial fez em tecnologia foi fundamental pra Globo ter o alcance que tem. Por outro lado, a emissora, mais que qualquer outra, soube introduzir um modo de gestão distanciada de oscilações pessoais do dono (que era o modelo Chatô).
O Padrão Globo de qualidade não é pouca coisa. O alto nível de cobertura da Globo sobre o coronavírus só é possível por esse preparo técnico, que vem sendo aprimorado ao longo das décadas.
Outra questão que apareceu com frequência foi sobre imparcialidade da Globo. A Globo não é imparcial e tem interesses. Mas o que a dissertação me ajudou ver é que TODAS as emissoras possuem seus interesses. A Band é muito mais pró-agronegócio, por exemplo, que a Globo.
Olha que a Globo é a emissora das chamadas "o agro é pop". Então, longe de mim desejar imparcialidade. Acho que a questão é transparência nesses interesses, ter mais diversidade de canais e algum tipo de regulação.
Como em relação à propriedade cruzada, quando um mesmo grupo possui diferentes veículos. Acho que isso deveria ser limitado. Não sou contra a existência da Globo (desculpem se frustro quem disse que eu odeio a Globo hahaha).
Como concessão pública, a Globo e as outras emissoras deveriam estar submetidas à regulação pública, não sobre conteúdo e sim sobre concentração de poder. Garantindo espaços de debate. Não dá pra ver com naturalidade apagamento sistemático de lideranças de oposição de esquerda.
Isso me leva a outra questão que apareceu muito sobre manipulação e alienação. Primeiro que não acredito que a Globo seja uma coisa só (nem seu jornalismo nem seu setor de entretenimento). Há questões progressistas como mulheres tendo direito sobre seus corpos que a Globo+
+encampou muito antes de serem temas com larga aceitação na sociedade (não são até hoje, já que vivemos em uma sociedade patriarcal em que ainda persiste uma compreensão de que o corpo a mulher está disponível aos homens). Isso é pra dizer que, se fosse, uma questão de+
+manipulação e alienação, as pautas da Globo seriam todas aceitas sem qualquer tipo de resistência da sociedade. E não é assim. As pessoas são atravessadas por uma série de questões e, a partir desses lugares, constroem as suas relações com o que é dito pela Globo.
Essa é uma das maiores broncas que eu tenho com parte da esquerda que não saca a importância que uma telenovela tem uma sociedade como a nossa e sempre repisa a tese fácil (e elitista) da manipulação e alienação.
Pra concluir: não assegurei no fio que Moro será o candidato da Globo. O que eu disse é que hoje ele é um personagem que interessa ao jornalismo da emissora. Se vai ser o candidato pelo qual ela terá mais simpatia ou se vai ser descartado só saberemos em 2022. Há um oceano até lá
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