1. Primeira premissa do estudo: as projeções foram feitas com base no histórico dos betacoronavírus que causam resfriado comum (são a segunda causa mais frequente). A partir daí foi feito o modelo para projetar a disseminação do vírus da Covid-19 (SARS-CoV-2), que é muito novo.
2. Segunda premissa: a extensão e a duração da imunidade ao vírus da Covid-19 ainda são desconhecidas. Por isso, ainda não se sabe quanto tempo as pessoas ficarão imunes depois que se recuperarem da doença. Por ora, sem novidades em relação a esse fio 👇 https://twitter.com/dadourado/status/1246961625065799682
3. Os autores assumem como provável que a imunidade à Covid-19 seja temporária e por isso consideram o cenário de transmissão sazonal (como a da gripe).
Esse ponto é chave para as decisões de saúde pública, como conversei recentemente com a @thaisr_ aqui👇
4. Além disso, admitem que intervenções para restrição de tráfego e distanciamento social são eficazes para controlar a transmissão do vírus, reduzindo o pico de intensidade da epidemia (“achatando a curva”), como evidencia o exemplo da China 👇 https://twitter.com/dadourado/status/1248868543422234624
5. A partir dessas premissas, os autores apresentam um modelo matemático para projetar cenários de transmissão da Covid-19, para depois avaliar a duração e a intensidade das medidas de distanciamento social que podem ser necessárias para o controle da pandemia e pós-pandemia.
6. Assim, primeiro os autores estimam a dinâmica de transmissão dos vírus do resfriado comum (OC43 e HKU1), considerando o pico sazonal (do final de outubro ao início de dezembro) e a imunidade cruzada entre eles (quem pega um fica, em certa medida, imunizado ao outro).
7. Com base nessa estimativa, simulam a transmissão do vírus da Covid-19 (SARS-CoV-2) até 2025, nas possibilidades: surtos anuais, surtos bienais, surtos esporádicos ou eliminação virtual. O que define isso é o padrão da imunidade (que ainda é desconhecido), como comentei acima.
8. Em todos os cenários simulados, o vírus da Covid-19 vai circular durante todo o ano. Se a imunidade a ele não for definitiva, provavelmente entrará em circulação regular. Se for parecida com a imunidade aos coronavírus do resfriado comum, a tendência é de surtos anuais.
9. Por outro lado, se a imunidade ao SARS-CoV-2 for permanente, o vírus pode desaparecer em torno de 5 anos após a pandemia.
A existência de imunidade cruzada com os outros coronavírus e a variação da transmissão sazonal também são fatores que vão influenciar o padrão.
10. É só a partir daí que é possível entender as avaliações quanto às medidas de isolamento social feitas no estudo. São baseadas nos modelos matemáticos, com diversas variáveis, como o potencial da redução da transmissão (R0) e a capacidade da rede de saúde (dos EUA).
11. Em todos os cenários simulados a intensidade e a duração das medidas de isolamento social são determinantes para a redução do pico da epidemia. Mas se houver um reforço sazonal (p. ex. em outubro), pode haver um pico ainda maior se o isolamento já tiver sido relaxado.
12. Adotar distanciamento social intermitente pode controlar os picos para adequar à capacidade de atendimento aos casos graves. Aqui aparece a possibilidade de duração de medidas até 2022: trata-se de uma conjectura, considerando equilibrar a capacidade da rede hospitalar atual.
13. Os autores não sugerem a necessidade de "quarentena até 2022". Os modelos mostram que, se houver aumento da capacidade de cuidados intensivos, as medidas de isolamento podem ser mais suaves e mais espaçadas, evitando saturar a rede assistencial. Esse é o ponto da discussão.
14. Naturalmente, se até 2022 surgir um tratamento específico antiviral eficaz ou for desenvolvida a vacina para Covid-19, as medidas de isolamento possivelmente serão mais espaçadas ou até desnecessárias após algum tempo.
15. Conclusão: mais estudos necessários para subsidiar decisões de saúde pública. Esses cenários são projeções e a expressão real vai depender do que for descoberto sobre a imunidade e a sazonalidade (ou não) da transmissão do vírus. Até lá, medidas de isolamento são essenciais.
16. Conclusão 2: distanciamento social intermitente pode ser medida eficaz, principalmente se associada a rastreamento/isolamento de casos/contatos, até que haja terapia específica ou vacina. Intensidade e espaçamento dependem de variáveis ainda a serem descobertas sobre o vírus.
P.S. Os autores não tomam posição sobre as medidas, chamam atenção p/ limitações dos modelos matemáticos, também p/ o fato que de simulações de sazonalidade foram feitas apenas para regiões temperadas (picos de outubro a dezembro)-não é possível extrapolar para regiões tropicais.
You can follow @dadourado.
Tip: mention @twtextapp on a Twitter thread with the keyword “unroll” to get a link to it.

Latest Threads Unrolled: