Um deputado de esquerda publicou um post dizendo, dentre outras coisas, que negros decidem o que é racismo

Que negros? É uma categoria social homogênea, com unidade política e ideológica? Todo negro pensa igual? de que negro estamos falando? Vamos pensar um pouco nesse discurso
Ser oprimido e explora não transforma ninguém em um revolucionário em potencial. Como bem disse Malcolm X, sempre existiram os "negros da casa-grande" que se identificam com o senhor de escravos. No plano mais geral, todo sistema de dominação precisa de aliados entre os dominados
Criar graus de dominação variados, com certos privilégios no grupo dominado para aliados do sistema de dominação, é prática comum em toda história da modernidade capitalista. Não se explica a história do colonialismo sem falar dos colaboracionistas, por exemplo.
Aliado a isso, eu não quero que negros liberais digam o que é racismo não. Considero, inclusive, um negro liberal ou conservador como tão adversário político como qualquer branco racista. E não estou falando de negros que reproduzem senso comum racista, por óbvio.
Aliado a isso, o fato de alguém ser negro não garante que sua análise sobre o racismo vai ser boa. Digo mais: mesmo sendo um negro militante, isso não garante que sua análise seja boa. E essa lógica, levada ao extremo, pode fazer com que análises estilo as de +
Florestan Fernandes ou de Marcuse seja descartadas com a ideia de que eles eram brancos e não devem falar do tema. É claro que uma análise de um acadêmico branco sempre vai ter mais prestígio e circular mais que de um acadêmico ou militante negro, mas isso se resolve com +
militância política e não adotar a visão errada que ser um oprimido garante condição ontológica privilegiada para entender uma opressão. Junte a isso o problema de se confundir protagonismo político com privilégio ontológico-epistemológico pela condição social. Explico.
É óbvio que o sujeito principal da luta antirracista é o negro. Embora essa luta seja de todos. Como bem ensinou os Panteras Negras, os negros dirigem a luta, mas o combate antirracista é de todos os explorados e oprimidos, especialmente os brancos pobres da classe trabalhadora.
Protagonismo político, direção nos espaços de luta e resistência, não significa que o que eu falar, só pelo fato de eu ser negro, está certo. O critério da verdade é a pesquisa científica, a reflexão teórica, séria, bem fundamentada e pensada. A tarefa do movimento é buscar +
Formar e promover seus intelectuais, seus pensadores e pensadoras, buscam criar uma ciência dos explorados e oprimidos. Nesse processo, é a política que conduzem, não uma espécie de certeza automática do negro = tudo que falou tá certo. Isso significa considerar que por ser +
A pessoa tem uma condição ontológica-epistemológica privilegiada para conhecer o objeto de estudos, no caso o racismo. E não. O negro, no sistema racista, tem uma sensibilidade política que pode fazer com que ele percebe mais rápido ou fácil o problema e assimilar todas as suas +
dimensões de expressão. Mas nada disso garante uma prioridade ontológica do seu discurso científico. O critério de verdade científica é... científico.

Só que a ciência não é separada da política, mas não se reduz a política. Unidos, mas diversos!
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