A oposição entre “isolamento total” e “retorno ao trabalho normal” é um debate completamente falso. Os dois são impossíveis. Todo país vai alternar entre estágios intermediários.

A verdade é que a melhor analogia agora é a seguinte: estamos em uma economia de guerra.
Embora o livre-mercado seja, no fundo, o único sistema que realmente funciona para gerar prosperidade, as externalidades extremas de uma guerra geralmente forçam o estado a intervir duramente na economia.

Em uma economia de guerra, os estados se preocupam mais com...
... vantagens relativas do que com a produtividade geral. Por isso, começa o confisco de recursos estratégicos, controle direto de certas indústrias, parcerias com outras.

Em certo sentido, é isso que está acontecendo agora... mas com diferenças importantes.
O inimigo é invisível e as frentes de batalhas estão se multiplicando rapidamente. Apenas vacinas e tratamentos podem derrotá-lo de modo decisivo. Toda a população está ameaçada.

Estamos diante de uma situação nova e as pessoas ainda não atualizaram seus modelos mentais.
Em uma situação de desastre, não é preciso mudar o funcionamento da economia. Desastres são localizados. É só transferir recursos das regiões não-afetada para as atingidas. O estado age com segurador e o mercado equilibra as coisas.

Em uma situação de guerra, a sociedade...
... continua funcionando em semi-normalidade, enquanto setores estratégicos são dirigidos a produzir recursos para a frente de batalha.

A situação atual é diferente das duas. A própria sociedade está presa em casa e, portanto, incapaz de manter as linhas de produção abertas.
As táticas normais de gerenciamento de desastre também não funcionam, pois o mundo todo está precisando das mesmas coisas ao mesmo tempo (máscaras, ventiladores, etc.).

Portanto, cada sociedade vai ter que improvisar soluções mistas: táticas de economia de guerra para...
... garantir acesso a recursos estratégicos e, principalmente, garantir um mínimo de segurança para garantir um funcionamento mínimo da economia.

A tática atual de colocar a economia em “coma induzido” pode durar algumas semanas, mas é insustentável no longo prazo.
O “coma induzido econômico” só dura enquanto a sociedade tiver poupança para queimar. Planos econômicos podem funcionar como um seguro emergencial, redistribuindo as perdas, mas nada substitui a produção: é preciso manter o fluxo de remédios, alimentos e serviços em geral.
Durante as próximas semanas, muita coisa será adiada e outras tantas serão canceladas definitivamente (reformas, projetos, tratamentos não-emergenciais). É o custo indireto da pandemia.

Porém, no momento, o principal é o custo direto: como sustentar a sociedade enquanto ela...
... está impedida de produzir?

Essa não é uma questão ideológica, mas eminentemente prática. Como tenho insistido, é preciso de protocolos para manter o máximo de atividades descentralizadas funcionando. O governo não é bom em determinar o que é ou não essencial, mas...
... pode criar protocolos para maximizar a segurança (distribuir máscaras, por exemplo) e manter o máximo possível da economia funcionando com base no livre-mercado (que é único mecanismo que possuímos para alocar recursos de forma eficiente).
A duração vai ser crucial aí também. O tempo de isolamento tem um efeito não-linear também. Quanto mais tempo durar, mais gente vai quebrar, entrar em desespero, etc.
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