Um fio sobre eu ter terminado a faculdade com CR baixo, 5.4 (em 10), mas hoje ser bem sucedido. Os nossos caminhos não são lineares. É possível você errar, desviar o foco, entrar em depressão, se desesperar, tentar e falhar, e muito mais, antes de vc encontrar seu caminho. (1/n)
Meu caso: Eu sempre soube do meu potencial, mas tb tinha síndrome de impostor e minha confiança flutuava. Na faculdade, eu até queria aprender, mas me distraía com basquete, pôquer, cerveja no Sujinho, e ficar rodeando as meninas de psicologia (sem qqer sucesso). (2/n)
Nos cursos que gostava ia bem. Nos cursos chatos, fazia o mínimo ou repetia! Na matéria mais chata de todos os tempos, contabilidade (a única tb que o professor fazia chamada), cheguei a repetir 2 ou 3 vezes (e hoje tenho vários artigos na área!). Pq isso? (3/n)
Pq eu não necessariamente sabia o que queria. O que é normal! São poucos os que já nascem sabendo que carreira seguir. Como no Brasil não sabemos nos planejar para o longo prazo (já escrevi muito sobre isso e até um livro), é mais difícil ainda saber que caminho tomar. (4/n)
Eu sabia que não queria ficar recebendo ordem de gerente meia boca, então nada de estágio para o mercado. Pensei em ir pro mercado financeiro mas comecei a estagiar com projetos de pesquisa. Vi que era bom, embora muito do trabalho fosse um saco. E então? (5/n)
Resolvia que ia adiar minha entrada no mercado de trabalho fazendo prova de mestrado! Precisava estudar. Como sempre, fiz o mínimo possível para passar. Não me importava em ser o primeiro. Só queria uma vaga. Consegui (penúltima vaga no IE). E aí? (6/n)
Tem sorte no meio! O mercado de ensino superior estava explodindo. Uma amiga do professor para quem eu trabalhava (Peterli, vc é 10!) era diretora na Estácio de Sá. Estavam desesperados. A demanda estava explodindo e não tinham professores. Me chamaram. Eu com 23 anos (7/n)
Ou seja, virei professor no meio do mestrado (já dava aula numa especialização para ensinar internet, coisa que pouca gente sabia na época). Uma puta sorte. Mas peguei a oportunidade com os dentes. Quando acabei o mestrado, fui para o doutorado. Como? (8/n)
Tentaram me dar rasteira e quase não entrei no doutorado. Peguei a última vaga na marra. Mas aí sabia o que queria. Ganhava dinheiro dando muita aula (cheguei a ter 15 turmas por semestre só na Estácio e as sextas-feiras eram épicas, aula sem parar de 7 às 23 em 3 campi!) (9/n)
Comecei a fazer day-trade de derivativos. E fiz a tese ministrando 84758758437632 horas de aula por semestre (número aproximado). Fechei a tese e virei professor. Como um dia queria ir pra fora, comecei a publicar em inglês, mesmo sendo desencorajado. Mais sorte! (10/n)
Recebi oferta de emprego da Nottingham Ningbo que estava expandindo loucamente. Tinha algumas publicações. Mas aí a trajetória já estava clara. Sabia que dependia só de mim – publicar e publicar bem e dar boas aula. Vieram Fundação Dom Cabral, NYU Shanghai etc (11/n)
Muita sorte no caminho. Muito trabalho. Artigos recusados. Fui construindo. Mas com muita sorte, apoio, e muito mais. Dos que estão no Brasil, obrigado a Maria da Graça Derengowski, Edson Peterli, Ernani Torres, Cristiane Valente, Cardim, e aos trocentos alunxs. (12/n)
Se vc tá se sentindo mal por se considerar um impostor, saiba que acontece com todo mundo. Mesmo com quem vem parar na China e tem a sorte de poder dar aula em três continentes. Tem muita queda, esbarrão, chute no saco e muito mais no caminho. E sorte. Fin. (13/n)
PS: prometo a quem me seguir que vou tentar continuar postando coisas interessantes e não platitudes. E, de novo, a vida não é linear. Se forem bem, lembrem-se sempre de tratar bem os próximos. A nova geração é melhor. Precisamos de garra dos mais novos pra melhorar o país.
PS3: não vim de família rica. Não tive qqer apoio inicial de rede de contatos. Dá pra fazer. O único apoio que tive foi dos corpos espremidos no 355, Madureira-Centro. Na lata de sardinha não precisava segurar em nada pq nem freiada forte fazia o amontoado se mexer.
PS4: não ter tido rede de contato não significa falta de privilégio. Branco, ~ 2 metros de altura, homem....tudo muito mais fácil. Mesmo com 24 anos e cabeludo, eu entrava em sala e era fácil impor respeito. Me lembro das histórias horríveis contra profs negros, mulheres etc.
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