Katsuki o tinha beijado na tarde anterior. Seu melhor amigo, por quem ele estivera apaixonado por... bem, vai saber por quanto tempo de verdade, mas assumidamente para si por quase um ano, sentia o mesmo por ele.

Eijirou estava nas nuvens.
Fora a tarde mais linda, ainda que constrangedora. Lembrar -se dela fazia ele esconder o rosto mesmo quando já estava na sua cama.

Ele tinha sido tão tonto! E Katsuki era tão lindo! E gostava dele!

Iria ser difícil dormir naquela noite. Não dava pra tirar o sorriso do rosto.
O beijo... Katsuki era tão forte! O abraço dele, as pernas de Eijirou amoleciam só de lembrar. Era como se tudo o que ele fazia fosse perfeito.

Já ele, pff, que vergonha. Pisou no pé de Katsuki e seu dente bateu no dele. Será que tinha usado língua direito?
Quando separaram o beijo, só faltou babar. Tinha balbuciado alguma coisa sem sentido nenhum, umas monossílabas com onomatopeias junto, e Katsuki deu uma risada alta, as mãos na sua cintura.

Eijirou ficou da cor do próprio cabelo.
Também na sua cama, Katsuki lembrava exatamente daquilo. Daquele jeito que Eijirou pareceu tentar falar alguma coisa depois de eles se beijarem e falou bem uns dez segundos de porra nenhuma.

Como um idiota daquele conseguia ser tão fofo?
Katsuki queria saber se Eijirou tinha gostado. Tinha ficado todo tenso, torceu pra não ter apertado Eijirou. Levou algum tempo pra sequer soltar a mandíbula e o outro já estava com língua no meio.

Mas encontraram um meio termo. Foi bom na sensação, e incrível no sentimento.
Seu primeiro beijo, e com Eijirou. Era o que importava. Eles iriam aprender, e se aquele besta não aprendesse por si que não se metia a língua assim na boca de alguém, ele ensinaria.

No terceiro beijo, Eijirou já parecia ter entendido; ou talvez era porque enfim tinha relaxado.
Três beijos! Eijirou não parava de rir baixinho na cama.

Eles acabaram andando na praia como outras inúmeras vezes, e como nenhuma antes.

Queria segurar na mão dele. Não era justo que eles não pudessem; não saberia se podia, na verdade. Não conseguiu nem pedir nem tentar.
Quando estavam sentados, escondidos pelas pedras, aquele silêncio antes tão natural entre eles era tão esquisito. Fervilhava de pensamentos. Cada vez que Eijirou abria a boca pra falar qualquer coisa de sempre, ele se sentia um bobalhão.

Tomou fôlego e alcançou a mão de Katsuki.
Katsuki sorriu de canto, como se desdenhasse, maneiro demais pra admitir que também estava no mesmo estado, com a mesma vergonha e mesmas hesitações.

Segurou a mão de volta, forte.

Vai me beijar ou vai ter que ser eu de novo?"

Segundo beijo, melhor que o primeiro.
Eijirou quase o derrubou na areia, contudo. Era feito um Golden retriever que não sabia que era grande demais pra ficar no colo, ou algo do tipo.

Daí ele dava aquela risadinha besta dele.

"Desculpa, Suki, eu- eu tô nervoso!"

"Ainda? Porra, supera!"
"Lógico, eu tô ficando com você! Você é incrível em tudo que você faz, que droga!"

Aquilo inflou o ego de Katsuki, ele não iria negar. Sorriso de lado.

"Deixa que eu vou te ensinar, então!" Ele sussurrou na orelha de Eijirou, apoiando a mão na perna dele.
Era uma brincadeira, mas o corpo de Eijirou não sabia brincar. Um arrepio subiu seu corpo e outra coisa também o tinha feito.

Katsuki arregalou os olhos quando Eijirou abraçou as pernas.

"Sério? Sério, você-? Com ISSO?"

Katsuki dessa vez caiu mesmo na areia de tanto rir.
Eijirou queria se jogar no mar e ser levado pro fundo do oceano. Murmurava desculpas ainda com o rosto nos joelhos.

Levou um tapa na nuca.

"Ei, idiota! Levanta essa cabeça aí, porra. Como se eu não soubesse que você é um trouxa. Esse é o Eijirou que eu-"
No intervalo calado, Eijirou ergueu a cabeça e viu Katsuki emburrar, o rosto corado.

"...que você..." Eijirou deu um sorrisinho de lado, arrastando as vogais, se aproximando mais.

"Que eu quero socar desde que conheci." Katsuki empurrou o rosto dele.
Eijirou empurrou a mão dele de volta, rindo, e deu-lhe um cutucão nas costelas como se fosse o troco do tapa.

Sabia que Katsuki tinha cócegas violentas, então não abusou. Mas logo o loiro estava meio deitado areia de novo, reclamando, xingando e chutando.
Quando foi que arrumou coragem pra beijá-lo mesmo enquanto o xingava e empurrava, Eijirou não sabia. Sabia que tinha rido o suficiente, as mãos de Katsuki estavam em seus cabelos e foi tão natural quanto qualquer outra coisa entre eles.
Como deitar de madrugada no quintal olhar as estrelas. Como ouvirem música no quarto ou voltarem juntos dos treinos. Como sentar no muro baixo da escola no intervalo.

Que bobagem ficar nervoso assim. Era só... Era só eles. Katsuki e Eijirou.
Ou era isso que eles se convenceram, porque a tarde foi fácil a partir dali. Conversa e risada. Não trocaram muito mais carícias e não se despediram como casal, porque já estavam na rua, mas era normal, certo?
Só que o mesmo entusiasmo que os fazia ficar tão animados ali na cama começou a fazer a adrenalina se converter em um inconveniente nervosismo.

O que eles eram agora?

E no dia seguinte, na escola?
{chega depois eu continuo ♡}
Mina literalmente deu um grito quando Eijirou contou pra ela na sala antes da aula. Ele gesticulou veemente para que ela ficasse quieta, mas também não conseguia conter as risadinhas.
"Meu amigo tá namoraaando!", ela cantarolou, e Eijirou disse que não era bem assim, eles não tinham falado nada sobre isso...

Mina dizia que aquilo era uma bobagem, que era óbvio que agora eles iriam ficar juntos; Eijirou parou de ouvir ao que Katsuki entrava na sala.
Como se Katsuki não viesse todos os dias com aquelas jaquetas e a mochila em um ombro, como se ele não andasse daquele jeito agressivo e marrento com os ombros jogados pra frente.

"Fecha a boca, Eijirou." Mina advertiu.
O olhar de Katsuki era sempre ferino, mas desde que entrou ele se fixou em Eijirou, enternecendo, e ele trancou a respiração para não suspirar. Queria saber como Eijirou estava se sentindo e em silêncio agradeceu por ele ser tão transparente e não saber esconder seu encanto.
Katsuki sorriu torto para um Eijirou levemente boquiaberto e parou na cadeira ao lado dele, a de sempre.

"Tá olhando o quê, tonto?" Katsuki jogou a mochila no chão e piscou com um olho. Mina virou-se para conter as risadinhas. Katsuki rosnou.

"Ela já tá sabendo, né?"
Eijirou arregalou os olhos, dando -se conta. Ele achou que estava implícito, mas não tinha perguntado para Katsuki se podia contar para ela. Aquilo não era nada honrado.

"Não- quer dizer, ela também- eu juro que só ela, ela também tem- sabe- desculpa se-" ele se embaralhou.
Mina interveio.

"Eu não vou falar pra ninguém, eu também sou, entende? É nosso segredo!"

"Tch." Katsuki jogou o corpo na cadeira. "Não tô nem aí pro que os outros acham, entendeu? Que fiquem sabendo, o primeiro a tirar sarro perde todos os dentes."
Mina sorriu e sussurrou.

"Eu tô feliz mesmo, Katsuki! Vocês são lindos juntos!"

"Mina!" Eijirou deu risadinhas.

"Não te perguntei nada." Katsuki disse, sentando torto, olhando pra frente e enfiando a mão nos bolsos como se não ligasse; ela podia jurar que ele estava corado.
Eijirou notou também, e achou que poderia derreter. Seria difícil prestar atenção na aula quando ele só queria olhar para o lado e suspirar.

O próprio Katsuki faz uma bolinha de papel pra jogar na cara dele, escrito "presta atenção na aula porque eu não vou te ensinar depois!"
Aquele idiota, Katsuki pensava, cada vez seu olhar cruzava com o de Eijirou.

No fundo, era um alívio, toda vez. Toda vez um lembrete indiscreto de como era correspondido.

"Vai sim ♡. Hoje?", ele recebe como resposta na bolinha de papel, e mostra o dedo. Mas ele iria.
Eram eles dois, apenas. Como já deviam saber. No intervalo, sentavam na mureta para dividir o lanche, e muito mais da rotina.

Eijirou deixou um bilhetinho com um coração no estojo de Katsuki, para que ele visse quando chegasse em casa.
Mas ele só viu quando foi mesmo ensinar a Eijrou aquela matéria, na biblioteca, de tarde, e abriu o estojo.

Eijirou corou.

"Você é muito trouxa." Katsuki disse, mas guardou o papel de volta. Segurou a mão de Eijirou debaixo da mesa e apenas começou a explicar o primeiro tópico.
Desde então, Eijirou pegou a mania de deixar bilhetinhos para ele, com corações ou elogios. Katsuki rolava os olhos, bufava, dobrava e guardava.

A retribuição veio em uma violenta bolinha de papel aparentemente gratuita antes de Katsuki ir embora na sexta.
"16h, sorvete" e um rabisco que muito parecia uma tentativa falha de um coraçãozinho, mas em que Katsuki pode ter tido um espasmo por estar expressando emoções e riscou o resto.

Foram pra sorveteria, aquilo que importava.
"Quer dormir lá em casa hoje?", Eijirou sugeriu quando estavam terminando seus sorvetes, e foi só depois que Katsuki aceitou que ele percebeu que aquele convite tão comum para eles agora poderia ter outro sentido.
***
Quando andavam para sua casa, Eijirou começou a cogitar possibilidades e concluiu que se fossem fazer qualquer coisa ele nem sabia por onde começar.

"Você tá com aquela sua cara de bobo de quando tá pensando alguma idiotice. Desembucha." Katsuki disse em certo ponto do caminho.
"Eu- Eu te convidei pra dormir na minha casa mas é que nem a gente sempre faz, tá?" Ele esclareceu. "Sem, eu não quis sugerir nada, não que eu não queira, mas também não é isso, sabe?"

"Óbvio, que porra você sequer tá falando?" Katsuki ralhou, então riu.
"Ah, saquei. Lá vai você de novo. Quer que eu te bata uma punheta de uma vez pra ver se você se aquieta?"

Eijirou negou com veemência, envergonhado. Até porque não era o que ele queria, mas agora não tinha como não pensar naquilo no final das contas.
Quando chegaram na casa dele, seu tio Taishiro já tinha chegado do trabalho. Os recepcionou com toda aquela sua alegria, abraçou Katsuki, e o fato de ele estar lá era um certo alívio. Teriam que se comportar de qualquer forma.
Jantaram, jogaram videogame, e, já de noite, banho tomado e pijama, enfim à sós no quarto de Eijirou, Katsuki estava com aquele seu jeito peculiar de ficar constrangido, como se estivesse emburrado em um nível extra.
Eijirou achou que era pelo mesmo motivo que ele, mas quando viu, Katsuki tirou da mochila umas três flores vermelhas que tinha roubado de um quintal e deu para Eijirou.

Quase as jogou nele, mais precisamente, dando as costas, falando umas coisas tipo "me lembraram de você".
Todo tenso e se sentindo ridículo, olhando para qualquer coisa que não Eijirou, Katsuki acrescentou xingamentos pra tentar fazer ficar menos doce. Surpreendeu-se com a força com que Eijirou se jogou às suas costas para abraçá-lo e agradecer.
"Você é incrível, Katsuki!" O rosto apertado nas costas do loiro, Eijirou estava transbordando, e realmente seus olhos se encheram de lágrimas.

"Não preciso de você pra dizer isso, eu sei." Ele respondeu ríspido,mas sua mão pousou na de Eijirou.
Quando seu coração parecia apertar demais no peito, Katsuki se desvencilhou, dizendo que ia arrumar seu colchão.

"Você quer dormir na cama comigo?" Eijirou se jogou na cama de casal, brincalhão. "Eu não vou fazer nada, juro!"
Katsuki rosnou baixo e subiu na cama de casal de Eijirou, para um rapaz que sorria pra ele. Deitaram-se lado a lado e imediatamente Eijirou aninhou-se ao lado do loiro.

"Eu nem acredito que isso tá acontecendo, sabia?" Eijirou suspirou.
"Como assim?"

"Você também gosta de mim!" Ele beliscou o nariz de Katsuki e levou um tapa leve naquela mão.

"Idiota."

Eijirou riu, dando beijinhos suaves no pescoço de Katsuki, que estremeceu e empurrou-o para o lado.
"Para com isso!" Deu as costas para ele, grunhindo, e Eijirou não se aproximou de novo; só esticou a mão para acariciar os fios loiros. Talvez nunca tivesse tido aquela oportunidade de verdade, de só fazer carinho naquele cabelo macio, ao contrário da aparência espetada.
Katsuki trancou a respiração no começo, mas deixou-se levar para uma sensação absurdamente boa. Seu corpo relaxou de um jeito que quase o assustou, porque parecia que ele podia afundar no colchão. Ouviu um "boa noite, Suki" antes de só cair no sono, de súbito e profundamente.
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